Rejeitos de água da Hydro Alunorte em área de tratamento de bauxita trazem quantidades de 14 elementos que podem ser nocivos na proporção encontrada
Pelo menos nove rios e igarapés do Pará estão com níveis de metais tóxicos acima do permitido, após vazamento em depósito de rejeitos tóxicos de uma mineradora em Barcarena.
A informação consta no segundo relatório técnico do Instituto Evandro Chagas sobre denúncia de impactos ambientais e riscos à saúde humana nas atividades de processamento de bauxita da empresa Hydro Alunorte, que analisou amostras de água coletadas entre 25 de fevereiro e 8 de março. O resultado da contaminação é água imprópria para consumo humano e pesca em diversas áreas analisadas.
Em uma ação civil pública, a Procuradoria geral do Estado do Pará cobra uma indenização de R$ 250 milhões da companhia norueguesa.
O pesquisador Instituto Evandro Chagas, Marcelo Oliveira, disse que a contaminação se espalhou por vários rios. “Tivemos níveis elevados fora da legislação de cinco a seis elementos químicos, dependendo do ponto onde foi coletado.” De acordo com o relatório, há níveis consideráveis de arsênio, chumbo, manganês, zinco, mercúrio, prata, cádmio, cromo, níquel, cobalto, urânio, alumínio, ferro e cobre.
Segundo o pesquisador, o instituto já monitorava a qualidade da água na região e o aumento do volume de metais tóxicos coincide com o lançamento de rejeitos feito pela Hydro em fevereiro após fortes chuvas na região. Os dados mostram ainda que o levantamento de auto monitoramento apresentado pela empresa, para comprovar o despejo controlado e sem risco, por canais irregulares, por onde passavam efluentes não tratados, são falhos e insuficientes.
Efeitos na população
O médico e pesquisador do Instituo Evandro Chagas, Marcos Mota, destacou que ainda é preciso investigar mais sobre os danos provocados a saúde dos moradores das comunidades atingidas. “A população, tendo acesso a grande quantidade dessas substâncias, pode ter efeitos nocivos, como comprometimento pulmonar e principalmente neurológico”, afirmou o médico.
O relatório recomenda que a água potável continue a ser disponibilizada até o final do período de chuvas à comunidades como Bom Futuro e Jardim dos Cabanos, abastecidas pelo rio Mucurupi. E indica que a água deve ser distribuída também para os municípios de Barcarena e Abaetetuba nas localidades banhadas por outros rios afetados.
A Hydro informou que ainda não teve acesso ao conteúdo integral do relatório e que vai analisar o material antes de se pronunciar. De acordo com a empresa, em abril serão apresentadas as conclusões de uma análise interna, e outra independente, para esclarecer todos os fatos relevantes em torno dos descartes de águas da chuva e águas superficiais da área da refinaria de alumina.