Parque Ecológico Imigrantes, em São Bernardo do Campo (SP), conquistou certificação AQUA-HQE com conceitos de sustentabilidade e preservação ambiental.
A cidade de São Bernardo do Campo, na região do ABC Paulista, ganhou um verdadeiro presente de Natal adiantado: o novo Parque Ecológico Imigrantes (PEI). Localizado no km 34,5 da Rodovia dos Imigrantes, o parque ocupa um terreno de 484 mil m² preservados no coração da Mata Atlântica, proporcionando a integração com o meio ambiente a partir de conceitos sustentáveis.
A iniciativa é da Fundação Kunito Miyasaka e faz parte da celebração dos 110 anos da imigração japonesa no Brasil. O Parque Ecológico Imigrantes abre hoje (10) para visitação gratuita e monitorada ao público. Os interessados devem realizar agendamento prévio pelo site – clique aqui.
O PEI foi pensado para ser um espaço de contemplação da natureza, acessibilidade e inclusão social, ecoturismo, pesquisa e educação ambiental e sustentabilidade. Assim, o projeto fez uso de técnicas e práticas de construção sustentável, como a preservação de recursos naturais e aproveitamento de energia limpa, normas de acessibilidade para pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida, bioconstrução e inclusão da comunidade local.
Estas características renderam ao Parque Ecológico Imigrantes a primeira certificação AQUA-HQE – aplicada no Brasil pela Fundação Vanzolini – para um parque em todo o mundo. O processo contou com a parceria da consultoria Inovatech Engenharia.
“Foram 11 anos de trabalho, esforço e superação de desafios para tornar este projeto uma realidade. É o primeiro parque do mundo a obter o certificado AQUA-HQE, conquistada por meio de práticas ambientais adotadas desde a concepção do projeto, passando pela execução, até o uso e operação das instalações”, diz Dr. Roberto Yoshihiro Nishio, presidente da Fundação Kunito Miyasaka.
Segundo Manuel Carlos Reis Martins, coordenador executivo da Fundação Vanzolini, a construção do parque em si considerou todos os aspectos importantes para pudesse ser considerada sustentável e, então, receber a certificação. “Por outro lado, também temos a qualidade de vida proporcionada no local, que são os critérios de conforto e saúde para o usuário, tanto nas áreas externas quanto internas. Temos aspectos voltados para o conforto térmico, acústico e olfativo, por exemplo. Afinal, queremos sentir o cheiro do mato aqui”, complementa.
Respeito ao meio ambiente
A extensão do PEI estabelece a ligação entre as margens da Represa Billings e o Parque Estadual Serra do Mar, respeitando a fauna e flora local. Assim, o principal cuidado tomado pelo comitê gestor e equipe técnica do parque foi garantir o menor impacto possível no ingresso ao terreno.
A implantação do projeto atingiu uma área construída de 1.710 m², que permite aos visitantes uma verdadeira imersão à natureza, podendo observar de perto o ecossistema presente neste trecho da Mata Atlântica em seu estado mais fiel. O levantamento técnico realizado encontrou sinais de diversas aves, macacos, tatus, gambás, entre outros animais.
Espécies de vegetação como samambaias, orquídeas e bromélias, palmeiras, araçás, goiabeiras, entre outras, que estavam em áreas licenciadas para supressão foram numeradas, extraídas e replantadas em locais espalhados pelo parque, formando trilhas e praças temáticas que levam os nomes das flores.
O planejamento e a execução da engenharia de área natural, com manejo silvo florestal, respeito à topografia original, manutenção da permeabilidade do solo e gestão dos pontos de escoamento pluvial, foram fundamentais em todo o processo de certificação.
Construção sustentável
O portal de entrada é feito com estrutura de aço reciclado, que equivale à sucata de 130 carros populares. A estrutura traz diversos benefícios como facilidade de montagem e desmontagem, sem a necessidade de uso de solda; possibilidade de reciclagem do material no futuro; e redução de emissões de gases CO2. Além disso, as paredes facilitam a ventilação cruzada e a climatização natural do ambiente, uma vez que elas são feitas de chapas perfuradas.
Uma passarela elevada sobrevoa a floresta em meio à copa das árvores e permite a circulação dos visitantes pelo parque. Ela construída a partir da utilização de madeira plástica, estruturas compostas por 70% de sobras de madeira – como serragem – e 30% de resíduos oriundos do pós-consumo de plástico – como garrafas PET.
Respeitando os referenciais técnicos do AQUA-HQE, os materiais selecionados foram comprados em locais próximos à obra, reduzindo o índice de emissão de CO2 causado pelo transporte e fortalecendo a economia regional.
O Parque Ecológico Imigrantes também se atentou à gestão dos resíduos gerados durante a obra, que valorizou mais de 92%. Muitos foram reaproveitadas na própria construção do projeto. A gestão dos resíduos passa por um processo de monitoramento, triagem, valorização e redução do volume que são destinados aos aterros.
Consumo de recursos naturais
Para gerar energia limpa de fontes renováveis, o PEI instalou um sistema de energia solar fotovoltaica e de energia eólica para backup, com um total de 3 horas de autonomia, que alimenta a rede de iluminação do parque, além da bomba d’água que irriga as áreas administrativas e o lago.
A água da chuva também reaproveitada para diminuir o consumo do recurso hídrico potável. O volume que cai no teto do portal de entrada é captado e conduzido por calhas até um reservatório adequado, abastecendo um circuito de água constituído por cerca de 25 mil litros, composto por dois lagos, um espelho d’água e três reservatórios de 5 mil litros. O recurso é utilizado para limpeza de áreas externas e rega de áreas verdes.
Já para o tratamento dos efluentes – resíduos oriundos do esgoto –, o parque construiu uma Estação de Tratamento dividida em cinco etapas: pré-tratamento; tratamento primário; secundário; tratamento do lodo; e terciário. Após este processo, o recurso é devolvido ao meio ambiente ou reutilizado em vasos sanitários.
Acessibilidade e inclusão social
O parque atende à norma brasileira de acessibilidade em edificações, mobiliário, espaços e equipamentos urbanos, promovendo o acesso irrestrito às pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida. Foram implantadas plataformas, rampas de acesso, bondinho em plano inclinado, corrimãos e recursos eletrônicos de áudio, bem como uma trilha sensorial, que permitem que cadeirantes e deficientes visuais, dentre outras necessidades, possam desfrutar do convívio com a natureza.
O propósito do parque é elevar a forma como os visitantes se relacionam com o meio ambiente, contribuindo para o bem-estar, saúde e qualidade das pessoas, inclusive em aspectos psicológicos. Os canteiros de mudas do PEI propiciam experiências sensitivas, além da inclusão em atividades de ecoturismo, esportes e aventura.
A inclusão também se expande para o aspecto social, uma vez que os bairros localizados próximos ao Parque Ecológico Imigrantes foram vistos como essenciais no desenvolvimento da construção. Moradores locais foram selecionados para programas de qualificação e oportunidades de emprego, além do trabalho de conscientização de preservação do parque e da Mata Atlântica feito por meio de campanhas e parcerias com projetos sociais.
Estrutura
O Parque Ecológico Imigrantes oferece seis trilhas para a visitação, que priorizam aspectos do meio ambiente como pontos de beleza cênica, curiosidades da flora ou da história de interferência antrópica na região, além de caminhos de acesso às estruturas físicas da unidade. Para atender à diversidade de interesse do público, há opções de trilhas curtas, com poucos obstáculos, e trechos longos, em meio ao relevo acentuado.
Em alguns trechos dos percursos foram aplicados modelos de reaproveitamento dos materiais excedentes e sobras das obras. E para a implantação, foi realizada a aplicação de estruturas e materiais com o propósito de transpor obstáculos naturais e minimizar o impacto no terreno.
A área de células concentra o auditório, as salas multiuso – com biblioteca digital e recursos de infraestrutura como banheiros – e área de descanso. O espaço pode ser agendado para eventos, como palestras e workshops. O PEI fechou convênios com órgãos públicos e privados para o fomento da educação ambiental, através das visitas monitoradas aos alunos de escolas estaduais, municipais e universidades. No âmbito acadêmico de ciência e pesquisa, o objetivo é estimular estudos em Ecologia, Biologia Evolutiva, Botânica e Zoologia, entre outros campos das Ciências Naturais.