A arquitetura pode ser voltada para fins sociais e ainda assim ter viabilidade como negócio. O importante é agregar interesses e parceiros que ajudem no processo
Se toda profissão tem a missão de suprir alguma necessidade humana, a arquitetura também pode ser pensada dessa forma. Além de produzir projetos inovadores e caros, é possível utilizá-la também para atender, de forma acessível, quem mais precisa dos serviços de um bom arquiteto.
Acabar com a pobreza, aliás, é o primeiro dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável estipulados pela Organização das Nações Unidas (ONU) para serem cumpridos até 2030. No Brasil, sabemos que esse é um problema grave e muito próximo da questão habitacional. Há muita gente sem ter onde morar e mais pessoas ainda que passam muito longe de ter uma casa própria.
Se você é um dos profissionais interessados em usar a arquitetura para fins sociais, aqui estão dez ótimas dicas preparadas pelo Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil:
1 – Foque nas reformas
O Brasil tem um déficit habitacional de 6,2 milhões de moradias – o que quer dizer que faltariam 6,2 milhões de casas para atender a população que ainda não tem onde morar. Por outro lado, são 14,7 milhões de residências com graves inadequações e necessidade de reformas, muitas delas sem uso atualmente. Reformá-las e direcioná-las a quem precisa, portanto, não só daria conta do número de famílias que não têm um lar (com uma grande sobra), como ainda contribuiria com uma economia no consumo de energia e materiais em geral.
2 – Direcione esforços para os mais pobres
Viabilizar formas para que as pessoas com menos recursos econômicos tenham acesso a residências de qualidade é fundamental. Hoje, existem políticas de crédito e programas sociais que dão condições às classes mais baixas de investirem a longo prazo. Eles só precisam do incentivo certo.
3 – Promova seu trabalho
As pessoas em geral sabem o que querem de uma boa casa, mas não têm a real noção de como o arquiteto pode ajuda-las com isso. Principalmente quando falamos na população de baixa renda. Então faça visitas, organize encontros regionais e mostre os benefícios que eles podem ter do seu trabalho. Se você procurar o poder público ou associações locais, pode conseguir boas parcerias nesse sentido.
4 – Considere a totalidade do projeto
Não adianta ter somente ideias sem estratégias para viabilizá-las. E isso inclui pensar em como aquela residência vai chegar ao consumidor menos favorecido. Por isso, é importante ter parcerias que garantam a viabilidade daquele projeto desde sua concepção até o financiamento para o futuro morador, passando pelos materiais e pela mão de obra necessária.
5 – Ofereça boas condições de parcelamento
Como citado no item anterior, é necessário que os projetos sejam viáveis economicamente para os beneficiários. O Programa Vivenda, por exemplo, financia projetos de reforma com custo médio de R$ 5.000 em até 30 vezes, com parcelas mínimas de R$ 100, dependendo do perfil da família atendida.
6 – Compre materiais diretamente dos fabricantes
Evitar intermediários tende a baratear os materiais necessários para as obras. Visando a realização de vários projetos, você pode formalizar um contrato de médio ou longo prazo para o fornecimento de alguns produtos, usando o varejista apenas como operador de armazenagem e entrega.
7 – Qualifique e use mão de obra local
Comunidades carentes geralmente precisam não só de casas, mas de emprego. E a construção civil é sempre uma área convidativa a pessoas sem formação superior. Por isso, analise se na área atendida há pessoas para utilizar como mão de obra. Claro, para isso é necessário treinamento e qualificação. Pode dar trabalho, mas você estará fazendo um bem ainda maior por aquela população.
8 – Privilegie ações de cooperativismo
Muitas regiões têm grupos organizados de troca de serviços e produtos. Por exemplo, um profissional da construção civil presta o serviço em troca de um eletrodoméstico que precise em sua casa. Também há a possibilidade de realizar mutirões para determinadas tarefas. O importante é engajar a população a favor dos projetos, e assim custos serão economizados.
9 – Busque parcerias
Há diversas entidades e ONGs dispostas a firmar parcerias com profissionais dispostos a atuar em áreas de risco ou marginalizadas. Procure alguma que atue naquela região ou relativamente ao setor da arquitetura. Vale a pena também ficar atento a projetos de fomento de municípios e estados.
10 – Tenha um plano de negócios
Não há ação bem intencionada que funcione sem viabilidade econômica. Por isso, o lado administrador e empreendedor não pode ser deixado de lado, ainda que o lucro não seja o principal objetivo do projeto. Consultoria é a palavra chave: de acordo com o Sebraetec, 82% das empresas que receberam ajuda do tipo afirmam reduzir desperdício e 77% reduzir custos. Além disso, 90% afirmam ter melhorado a qualidade dos serviços oferecidos e 45% passaram a oferecer outros serviços com sucesso.