Por Fabi Fregonesi*, fotógrafa subaquática brasileira


Quando mergulho, o silêncio do oceano fala. Seu discurso nem sempre é calmo, algumas vezes soa como um pedido de ajuda. É por isso que a COP30, que acontece em Belém do Pará, carrega um papel tão simbólico: ela deve ser a oportunidade de ouro para que o mar, mais do que nunca, ganhe voz no centro das decisões sobre o futuro do planeta.
Os oceanos cobrem mais de 70% da superfície da Terra e absorvem cerca de 90% do excesso de calor gerado pelos gases de efeito estufa, conforme relatório da UNESCO. Além disso, capturam aproximadamente um quarto do CO₂ emitido anualmente pela atividade humana. O mar também abriga ecossistemas cruciais conhecidos como carbono azul (manguezais, pradarias marinhas e pântanos salgados), capazes de estocar até quatro vezes mais carbono por hectare do que as florestas tropicais, um dado amplamente reconhecido por organizações como o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC). Mesmo com tamanha relevância, os oceanos continuam sendo o ambiente menos representado nas negociações climáticas.
Vivemos a Década da Ciência Oceânica para o Desenvolvimento Sustentável (2021–2030), proclamada pela Organização das Nações Unidas e coordenada pela UNESCO. Esse movimento global busca fortalecer a relação entre ciência, sociedade e políticas públicas, para que o conhecimento sobre o oceano se traduza em ações concretas de proteção e sustentabilidade. A COP30 é uma oportunidade de colocar essa visão em prática.
Eu não sou cientista. Sou fotógrafa. E o que vejo nas minhas expedições fala por si: a força, a diversidade e a delicadeza da vida marinha em seu estado mais autêntico. São cardumes que se movem em coreografias perfeitas, tubarões que circulam com elegância silenciosa, e recifes que abrigam cores e formas quase impossíveis de descrever.
Fotografar o oceano é testemunhar a harmonia da natureza e perceber o quanto ela é essencial para o equilíbrio da Terra. A fotografia subaquática é a minha forma de traduzir a urgência do que o mar está tentando nos dizer.
Acredito que a arte tem um espaço importante nesse diálogo. A ciência traz dados; a arte traz conexão. Uma imagem não necessariamente explica, mas faz sentir. E é no sentimento que começa a mudança. Quando alguém se emociona com uma foto de um cardume, de um tubarão ou de um naufrágio, essa pessoa se aproxima daquele universo. E ninguém protege o que não conhece ou o que não ama.
O Brasil, com seus mais de 8.500 km de costa atlântica, tem agora a chance de liderar essa conversa global. A COP30 pode ser o momento de integrar definitivamente oceano, clima e biodiversidade em uma mesma agenda. Mas é, sobretudo, a hora de ouvir quem vive do e pelo mar: comunidades costeiras, pescadores, mulheres e jovens que formam esse ecossistema humano.
Mergulhar me ensinou que beleza e urgência andam juntas e que é impossível não se importar depois que se olha de perto. Cada mergulho é um lembrete de que o planeta ainda pulsa. E cada fotografia, uma tentativa de capturar e preservar esse fôlego vital.







