Em visita a ponto de coleta da Plastic Bank em Itaguaí, no Rio de Janeiro, o canadense David Katz defende o combate à poluição plástica e a reintrodução do material na cadeia Produtiva

”Se cada pedaço de plástico que vemos no oceano fosse facilmente trocado por cinco dólares, você acha que veríamos algum no oceano?”, questiona o canadense David Katz, fundador e CEO da Plastic Bank, durante visita ao Brasil. No fim de julho, o empresário, que se dedica há mais de dez anos ao desenvolvimento de um ecossistema capaz de reduzir a poluição plástica nos oceanos e beneficiar coletores de material reciclável, esteve pela primeira vez em um ponto de coleta associado à empresa no Rio de Janeiro. No local, Katz refletiu sobre um novo jeito de fazer negócios e defendeu que é preciso olhar com mais atenção para um modelo regenerativo, que seja “da sociedade para a sociedade”.

“Se nós sobrevivermos ao que está acontecendo no planeta, são os bons negócios que vão ajudar a regenerar a Terra. Continuamos a falar de mudanças climáticas, mas é de mudanças nos negócios que precisamos tratar. O modelo tradicional implica em extrair valor dos outros, é quase contra a lei que as empresas sirvam à sociedade. Agora, um modelo regenerativo é pensado para servir a todas as pessoas, à medida em que cada transação vai tornando o mundo melhor”, explica Katz.

Fundada em 2013 no Canadá, a Plastic Bank é uma empresa social que ajuda a impedir que o plástico polua os oceanos, ao mesmo tempo em que promove melhorias nas condições socioeconômicas de membros em comunidades costeiras. Atualmente, a empresa atua no Brasil, na Indonésia, nas Filipinas, no Egito e em Camarões (sob modelo de licença), tendo viabilizado a coleta de mais de 93 milhões de quilos de plástico – o equivalente a mais de 4,7 bilhões de garrafas plásticas – ao redor do mundo desde o início das operações.

Idealizador da proposta da empresa, David Katz recebeu o prêmio Lighthouse das Nações Unidas em 2017 na categoria ‘Saúde Planetária’ e o prêmio comunitário Sustainia na Conferência do Clima COP21, em Paris. Katz, que foi presidente do grupo de Vancouver da Organização de Empresários, já foi nomeado “um dos empresários mais compassivos do mundo” pela Salt Magazine.

No Brasil, o CEO da Plastic Bank visitou o Sucatão de Itaguaí, localizado no município de Itaguaí (RJ), onde conversou com os coletores cadastrados no programa de bonificação da empresa. A Plastic Bank atua no Brasil desde 2019, onde já foram coletados mais de 4,7 milhões de quilos de plástico para reciclagem.

Para Katz, a grande missão é construir um ecossistema efetivo, com escala e que possa estimular a cadeia da circularidade: “Nós tratamos o plástico como vilão, esperando que o material mude, mas continuamos com o mesmo comportamento. Há muitos anos, eu falo sobre a necessidade de ‘fechar a torneira’. No começo, a discussão era sobre limpar o oceano, a praia, e nunca chegaríamos a uma solução assim. Devemos ‘fechar a torneira’ para impedir o plástico de entrar no oceano. Agora, este está sendo o mote do Tratado Global contra a Poluição Plástica da ONU”, argumenta o CEO da Plastic Bank.

Por meio do programa da Plastic Bank, coletores recebem uma bonificação por quilo de material plástico entregue nos pontos de coleta associados, o que garante renda extra, benefícios e melhorias na qualidade de vida. Somente no Brasil, são mais de 3.500 coletores cadastrados no programa.

Todas as trocas feitas ao longo da cadeia de reciclagem são registradas por meio de uma plataforma própria protegida por blockchain, ajudando a verificar relatórios e possibilitando uma coleta rastreável. O plástico coletado para reciclagem é processado e transformado no Plástico Social, que, após o beneficiamento, pode ser reintegrado em novos produtos e embalagens, como parte de uma cadeia circular de suprimentos.

“O nome ‘Plastic Bank’ vem da ideia do banco como algo que implica valor, dinheiro. Conseguimos mapear os coletores que retornam o material consistentemente, então você entende o compromisso, a entrega, e vê que é uma pessoa confiável. Com quanto mais frequência eles coletam e devolvem, mais ganham créditos. Quais outros negócios podem ser criados a partir desses benefícios?”, questiona Katz.

Por fim, o empresário contou que, com a consolidação do ecossistema da Plastic Bank no Brasil, o objetivo da empresa é uma expansão para outros países da América Latina. Segundo o canadense, é tempo de a sociedade trabalhar para perceber valor em iniciativas que não existiam antes e dividir esse valor.

Conclui Katz: “Todo país é diferente e, mesmo assim, todos são o mesmo. Precisamos estar no resto da América Latina porque é uma combinação de onde estão oportunidades de negócios latentes, recicladores e processadores, e necessidade de soluções para o combate à poluição plástica. Queremos experimentar para, no futuro, permitir que o mundo inteiro crie seus próprios ecossistemas para destinar materiais, de modo que todas as pessoas consigam fazer um pouco de dinheiro extra. Estamos vendo uma nova geração que quer dar a vida por um propósito e isso deve nos motivar.”

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