Engenheira de automação de sucesso, Sinara Campos vê aumento da participação das mulheres no setor, mas aponta desafios que ainda persistem.
Ainda em minoria, mas com cada vez mais prestígio. Assim é o retrato da participação feminina na construção civil, segundo um dos casos de mulheres bem sucedidas no setor: Sinara Campos, engenheira de automação na Almeida França Engenharia, foi a única mulher de sua turma na Universidade Nacional de Brasília, mas hoje afirma encontrar diversos pares em posições de destaque.
Atuando em um mercado em que apenas 9,9% dos profissionais são mulheres, de acordo com o último levantamento do Ministério do Trabalho e Emprego, ela diz ver sinais de que tal cenário está mudando. “Hoje, o mercado está muito mais aberto pra isso [a participação das mulheres]”, disse a profissional, em entrevista ao Going GREEN Brasil. “Estou há cinco anos na empresa, coordeno a área de automação e já vejo outras mulheres em situação semelhante”.
De fato, projetos importantes não faltam no portfólio de Sinara: três anos realizando a manutenção de ar-condicionado no prédio da presidência da República, atuação no Ministério do Meio Ambiente, e a realização de toda a parte de automação no novo prédio do Comando de Operações Táticas da Polícia Federal são apenas alguns exemplos. Na própria estrutura da Almeida França, ela comandou a implantação da usina fotovoltaica e vem coordenando as adequações necessárias para a obtenção da certificação LEED pelo edifício sede da empresa.
Conservadorismo e mudança
Para Sinara, ficou mais fácil ganhar autonomia e confiança para atuar na engenharia após chegar a centros mais profissionalizados, como a universidade e o mercado da capital federal. De fato, o Distrito Federal é a única unidade federativa brasileira onde as mulheres têm um salário médio maior que o dos homens, como mostram dados do Ministério do Trabalho e do Emprego.
Mas durante a infância e adolescência em Goiânia, o cenário era outro. “Vejo que por lá o pessoal tem uma mentalidade muito tradicionalista, amarrada ao passado. No ensino fundamental e médio, ouvi muito que engenharia é profissão de homem, principalmente mecatrônica e essas áreas consideradas mais complicadas. Não é mostrado que essa profissão pode ser indicada e perfeitamente realizável por elas”, explica.
Situação que vem mudando com iniciativas como a Women in Engineering (em português: “Mulheres na Engenharia”), instituição que agrupa mulheres engenheiras do mundo todo e serve como inspiração para jovens interessadas na profissão. Ano passado, Sinara conduziu uma visita de cerca de 15 estudantes que fazem parte da entidade à usina fotovoltaica da Almeida França, e pôde encontrar um cenário mais promissor.
“As meninas eram bastante jovens, na faixa de 19 a 21 anos, e todas muito engajadas, questionadoras, fazendo perguntas variadas e muito técnicas. Elas estudaram o assunto antes de ir para a visita. Percebo que a geração mais nova corre muito atrás desse reconhecimento e vejo que hoje há muito mais recursos, oportunidades para elas”.
A mudança geracional ajuda Inclusive a lidar com questões tradicionalmente difíceis para mulheres, como a possibilidade de assédio masculino no ambiente de obras. “Essas jovens faziam questão de manter suas identidades nesse meio, não mudando sua vestimenta para ficarem mais parecidas com homens, mas exigindo respeito da forma como são”, diz Sinara. “Sinto que existe uma dificuldade ao tentar ser feminina nesse ambiente da construção civil. Nunca fui a uma obra de saia, tenho certo receio”.
Mentalidade
Ainda que algumas dificuldades sejam encontradas pelo caminho, a engenheira da Almeida França acredita que parte da explicação para a pequena participação feminina na construção se encontra nas próprias mulheres, que, imaginando dificuldades futuras, acabam preferindo atuar em outras áreas.
“São dificuldades que muitas vezes estão na cabeça das mulheres. Como passei por essa trajetória, não vejo grandes dificuldades. Talvez muitas mulheres tenham medo e achem mais cômodo ficar em outras áreas por acharem muito difícil atuar na engenharia. Já ouvi de muita gente que o que eu faço é muito difícil, que outras não conseguiriam, mas não é verdade”, lembra.
Há pelo menos uma área em que Sinara Campos vê a completa ausência de participação feminina. “Às vezes parece não existir uma mulher sequer com função de técnica – só encontrei uma até hoje. Eu sou gestora, mas procuro ter um perfil técnico na função, acompanhando muitos procedimentos. E nunca pude dividir isso com outras mulheres”.