Setor tem a maior disparidade de participação por gênero entre todos os avaliados pelo Ministério do Trabalho e Emprego.
Dupla jornada, salários menores, assédio de colegas e chefes. Se ser mulher no mercado de trabalho já é um desafio constante, atuar em um setor tradicionalmente dominado por homens pode representar dificuldades ainda maiores para elas. É o caso da construção civil, em que apenas 9,9% do 1,9 milhão de trabalhadores ao final de 2016 eram do sexo feminino, segundo dados do Ministério do Trabalho e Emprego obtidos com a Rais (Relação Anual de Informações Sociais). Um caso extremo, mas não tão distante da realidade geral, considerando que no mercado de trabalho como um todo a proporção é de 44% de mulheres e 56% de homens – ainda que as mulheres sejam maioria da população brasileira, representando 51,6% do total.
É verdade que essa diferença já foi maior. Em 2006, os homens eram 59% do total de trabalhadores, enquanto as mulheres representavam apenas 41%. Na construção civil, entretanto, a situação não mudou muito: no mesmo ano, a quantidade de mulheres era 7,1% do total, apenas um pouco abaixo do que ocorre hoje. Veja a evolução ano a ano, segundo o MTE:
Ano | Quantidade de homens | Quantidade de mulheres | Total | Porcentagem de mulheres em relação ao total |
---|---|---|---|---|
2006 | 1.294.415 | 99.031 | 1.393.446 | 7,1% |
2007 | 1.508.983 | 109.006 | 1.617.989 | 6,7% |
2008 | 1.776.627 | 137.969 | 1.914.596 | 7,2% |
2009 | 1.973.508 | 158.780 | 2.132.288 | 7,4% |
2010 | 2.319.169 | 189.753 | 2.508.922 | 7,5% |
2011 | 2.531.664 | 218.509 | 2.750.173 | 7,9% |
2012 | 2.591.904 | 240.666 | 2.832.570 | 8,4% |
2013 | 2.645.909 | 246.648 | 2.892.557 | 8,5% |
2014 | 2.559.789 | 255.897 | 2.815.686 | 9% |
2015 | 2.196.033 | 226.631 | 2.422.664 | 9,3% |
2016 | 1.788.702 | 196.702 | 1.985.404 | 9,9% |
É verdade que há casos mais frequentes de mulheres se destacando e conquistando o respeito de todos no setor. Mas, ainda que tenham ganhado espaço, as mulheres ainda estão distante da igualdade em tratamento e participação em cargos de liderança. Basta ver outros dados do MTE para constatar.
Enquanto a média salarial dos homens no Brasil em 2016 (ano dos estudos mais recentes a respeito) era de R$ 3.063,33, a das mulheres ficava 15% abaixo, com R$ 2.585,44. A diferença já foi maior, mas continua grande por um motivo simples: as mulheres ainda são preteridas em cargos de liderança – e, quando os ocupam, costumam ganhar menos que os homens na mesma posição.
A distância e o tratamento diferenciado ficam ainda mais evidentes se considerado o fator educacional. A remuneração média das mulheres com ensino superior completo, em 2016, de R$ 4.803,77, enquanto a dos homens era de R$ 7.537,27. Quase R$ 3 mil de diferença
“Na média, as mulheres continuam ganhando menos que os homens. Esta situação pode ser explicada pelo fato de que a participação feminina no mercado de trabalho formal está concentrada em ocupações que apresentam remuneração mais baixa. Além disso, as mulheres ocupam menos os cargos de chefia e ainda há fatores discriminatórios no ambiente de trabalho, que precisam ser combatidos”, aponta a analista de Políticas Sociais do Observatório Nacional do Mercado de Trabalho do Ministério do Trabalho, Mariana Eugênio.
Setores e regiões
A construção civil tem um dos índices mais baixos de participação feminina, junto com o extrativista mineral. Onde elas mais estão presentes é na administração pública, sendo 59% do total de trabalhadores. E é justamente o Distrito federal, onde boa parte dos empregos disponibilizados é para esse setor, a única unidade federativa onde as mulheres ganham (R$ 5.261,80), em média, mais que os homens (R$ 5.1.96,10). Já Acre, Pará, Pernambuco, Alagoas e Paraíba são Estados em que a balança, embora esteja equilibrada, ainda pende para os homens.
Por outro lado, o principal polo econômico do País é onde a diferença se torna maior. Em São Paulo, as mulheres recebem apenas 80,2% da remuneração média dos homens. É o menor percentual em todo o Brasil, seguido por Santa Catarina (80,7%) e Espírito Santo (80,8%).
2 comments
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