Trabalho da rede Sesc-SP, realizado em meio à crise hídrica em 2014, mostra que não são necessários grandes investimentos para obter ótimos resultados na economia de água.

Piscina Sesc
A rede Sesc-SP não precisou fechar nenhuma de suas 88 piscinas para implementar o programa de uso responsável da água. (Foto: Alexandre Nunis)
Entre 19 e 23 de março, o portal Going GREEN Brasil celebra o Dia Internacional da Água (22/3) com uma série de reportagens sobre a importância deste recurso vital para a vida humana e a sustentabilidade. Falaremos sobre questões ambientais, uso nos edifícios, gestão hídrica e empresas que oferecem soluções inovadoras envolvendo a água. Clique aqui para ver os conteúdos já publicados e ajude a promover o uso sustentável da água em todos os momentos.

A proliferação de edifícios ultramodernos que usam diversas tecnologias para alcançar resultados sustentáveis e altas pontuações em certificações pode levar muitos a crer que é caro ser sustentável. Que somente gastando muito dinheiro com produtos inovadores e processos complexos é possível economizar água e ter eficiência no abastecimento hídrico.

O foco em soluções tecnológicas faz, muitas vezes, que seja esquecido o principal componente do uso racional da água: a conscientização. E há não só empreendimentos e residências, mas grandes redes de consumidores desse bem que dão grandes exemplos de sustentabilidade a um custo ínfimo. A rede Sesc (Serviço Social do Comércio) de São Paulo deu um desses ótimos exemplos, economizando, apenas com ações de reeducação e baixos investimentos, 30% no uso da água de suas unidades.

Com 40 instalações espalhadas pelo estado paulista – muitas delas com piscinas, diversos chuveiros e restaurantes com grandes cozinhas –, o Sesc se viu, assim como boa parte de São Paulo, em uma situação alarmante com a crise hídrica que afetou a região em 2014. A ameaça de racionamento e de custos maiores para a obtenção de água fez com que, de forma urgente, um plano fosse estabelecido para conter desperdícios e racionalizar o uso desse bem.

Com tantos locais diferentes envolvidos, a chave encontrada para reduzir o consumo foi a integração entre os diversos departamentos. “O Sesc montou um grupo multissetorial, com profissionais de alimentação, das práticas esportivas, da gerência de assuntos sustentáveis e outros, e realizamos, periodicamente, reuniões para rever os processos de consumo. Iniciamos uma revitalização das cozinhas, instalamos redutor de vazão nas torneiras, acompanhamos a vazão dos chuveiros, e, sobretudo, iniciamos uma campanha de conscientização junto aos públicos interno e externo”, explica a coordenadora de Infraestrutura do Sesc SP, Irimar Palombo. Batizado de Programa Consumo Responsável (iniciativa semelhante foi tomada envolvendo a energia elétrica), a iniciativa encontrou, logo de início, economias imediatas a serem realizadas.

Conscientização geral

Mais do que corrigir casos de desperdício extremo, a comunicação com toda rede de colaboradores e frequentadores das unidades dos Sesc foi fundamental para gerar uma melhora generalizada. Em 40 edifícios, pelos quais passam 24 milhões de pessoas anualmente, e que possuem 88 piscinas, 92 restaurantes e cafeterias e 152 consultórios odontológicos, criar um processo virtuoso de economia de água exigiria que todos os envolvidos tomassem consciência da urgência do problema.

Cozinha Sesc
Participação dos profissionais do setor de alimentação foi fundamental para a redução no consumo de água nos Sesc-SP (Foto: Alexandre Nunis)

“Promovemos o engajamento de todo o corpo técnico das unidades. Cada uma delas tem gerente e coordenadores de área, que passavam o que era necessário às suas equipes. Então, além das reuniões centrais de planejamento, pedimos também encontros setoriais de cada unidade do Sesc para ver o que estava funcionando, ou o que não estava indo bem. E levamos a todos os prédios peças visuais, mostrando o melhor uso dos sanitários, chuveiros e outros equipamentos, além de promovermos atividades programáticas, apresentações e oficinas com o tema da economia da água para os frequentadores”, diz Irimar.

Os resultados, conforme esperado, chegaram. De um consumo anual de 1 milhão de metros cúbicos de água em 2013, considerando todas as unidades paulistas do Sesc, a rede conseguiu baixar a conta para cerca de 730 mil no ano de 2015 mantendo-se no mesmo patamar até os dias atuais. Uma economia superior a 25% em água, que, é claro, pôde ser revertida em ganhos econômicos.

Algumas unidades específicas viram resultados ainda mais expressivos, segundo a coordenadora de infraestrutura do Sesc-SP. “Havia unidades que consumiam 42 litros diariamente, por pessoa. Depois de todo o trabalho, caiu mais de 50%, para 19 litros”, conta.

Quadras poliesportivas Sesc
As quadras em si não gastam água, mas demandam vestiários que atendam todos os praticantes de esportes nas unidades Sesc.
(Foto: Gustavo Basso)

E tudo isso gastando pouco. Os gastos do processo vieram com a confecção das peças visuais, organização dos eventos de conscientização e compras de materiais simples, como arejadores de torneiras e redutores e vazão, segundo Irimar.

Trabalho permanente

A lição aprendida pelo Sesc foi a de que não deveria ser necessário ter um momento de crise para promover um consumo racional de água. Até por isso, as ações empreendidas passaram a ser permanentes após São Paulo já ter passado pelo momento mais difícil. Desde então, já foram inauguradas duas novas unidades Sesc em São Paulo, e, de acordo com Irimar Palombo, sem que houvesse um impacto considerável no consumo de água. “A engenharia do Sesc tem uma meta para cada projeto, então em todas as unidades em construção a gente faz apresentação pros projetistas, mostrando os padrões mínimos necessários. Não só em água, mas também em energia elétrica e outros campos”, lembra a responsável, citando outro recurso que também foi alvo de um projeto minucioso de redução no consumo e desperdícios.

E, ainda que priorize ações de educação acerca do consumo da água, as unidades do Sesc não deixam de adotar práticas e tecnologias que contribuam com esse processo. “Fazemos reuso da água e tratamento de esgoto em algumas unidades, além de ações em outros campos como captação de energia solar, telhado verde. E fazemos a manutenção preventiva dos prédios para nos anteciparmos aos problemas”, conta a coordenadora de infraestrutura da rede, que tem um edifício com certificação LEED Gold (em Sorocaba – selo na modalidade BD+C Nova Construção) e outras cinco certificações em processo de avaliação.

Com os novos padrões estabelecidos, o Sesc espera progredir ainda mais na economia de água, contribuindo em grande escala para a valorização desse bem essencial. “Hoje o consumo médio é 30 litros diários por pessoa. Esperamos chegar a 25 litros em 2020, somando as novas unidades a serem inauguradas”, prevê Irimar Palombo.

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