Cidade sul-africana passa pela pior seca de sua história ao mesmo tempo em que dá espaço a uma nova onda de construções sustentáveis.
Um dos principais destinos turísticos africanos e porta de entrada para a rota dos vinhos na África do Sul, a Cidade do Cabo passou perto de se tornar a primeira metrópole sem água do mundo. Um regime baixíssimo de chuvas nos últimos anos – mesmo nas tradicionais estações de cheia – fez com que o governo determinasse um consumo máximo de 50 litros de água diários por pessoa. E foi essa conscientização da população que evitou o “Dia Zero” – quando o nível dos reservatórios atingisse a marca crítica de 13,5% e o abastecimento nas residências e estabelecimentos seria interrompido. O consumo per capita seria então reduzido a 25 litros diários e a água só chegaria a 200 pontos específicos espalhados pela cidade.
Anteriormente previsto para 12 de abril, o indesejável dia foi postergado para 9 de julho, quando, espera-se, o regime de chuvas já tenha melhorado a situação.
Já com status de desastre nacional dado pelo governo sul-africano, a crise na Cidade do Cabo castiga justamente uma cidade que vem apostando em rígidos padrões ambientais – principalmente quando falamos de construções. De acordo com o estudo World Green Building Trends de 2016, da Dodge Data & Analytics, que mede o estado e as tendências das construções sustentáveis em diversos países, a África do Sul já tinha, naquele ano, uma das maiores taxas de “prédios verdes” entre o total existente no país, de 41%. E a previsão é que, para 2018, o número chegasse a 60%. E, dos 310 prédios sul-africanos com a certificação Green Star, concedida pelo GBC local, boa parte se localiza no Cabo Ocidental, região onde fica a Cidade do Cabo.
Tanto edifícios novos quanto outros que passaram por retrofit são símbolos dessa nova política. O Museu Zeitz de Arte Contemporânea, por exemplo, ocupa desde o ano passado um prédio que estava em desuso desde 1990 e passou por uma total transformação. São 100 galerias e 6 mil metros quadrados de espaço expositivo, num prédio que hoje integra o V&A Waterfront, um antigo porto que também foi revitalizado e hoje comporta edifícios comerciais, residenciais, hotéis, restaurantes e locais de entretenimento e aprendizagem cultural, como o próprio museu – tudo construído sob preceitos sustentáveis (clique aqui para saber mais)
Fearing Tourist Drought, Cape Town Charts a New Relationship with Water https://t.co/pbHwE2g4uY pic.twitter.com/E218VxodkY
— VOA Africa (@VOAAfrica) 21 de fevereiro de 2018
Um dos edifícios que ocupam o V&A Waterfront é o hotel Radisson RED, que, com um estilo que prima pela tecnologia e conversa com o público millennial, não utiliza papel e tem uma política de zero desperdício de comida. Além de ter ambientes flexíveis nas áreas comuns, que permitem diferentes configurações de espaço, e da utilização de materiais naturais na construção e ar-condicionado á base e água do mar, por exemplo. Tudo isso deu ao hotel a certificação Green Star 5 estrelas, a primeira obtida por um empreendimento na categoria Custom Hotel (Hotel Customizado).
Resta agora à Cidade do Cabo, seus governantes moradores pensarem em formas de levar os preceitos sustentáveis ao aproveitamento da água. Contornar a seca é uma questão urgente, não só para o bem-estar da comunidade local, mas também para que a atividade turística, importante para a economia da cidade, não diminua. Para isso, as autoridades estudam medidas como o desenvolvimento de tecnologias para dessalinização da água do ar, coleta subterrânea e a própria reciclagem do bem natural. E também consultam governos como o da Austrália, país com clima semelhante ao sul-africano, para obter alguma “consultoria” em como lidar com os problemas ambientais.
Fontes: GB&D Magazine e BBC Brasil