IEMA apresenta estudo sobre o projeto Xingu Solar, que mostra como as energias renováveis aumentam a disponibilidade energética de comunidades indígenas.
Na última quarta-feira (27 de março), em Manaus (AM), o Instituto Energia e Meio Ambiente (IEMA), o Instituto Socioambiental (ISA), a Associação Terra Indígena Xingu (ATIX) e o Instituto de Energia e Ambiente da Universidade de São Paulo (IEE-USP) se reuniram para debater como energias renováveis podem beneficiar a vivência de comunidades indígenas no Brasil.
Na ocasião, o IEMA apresentou dois estudos – um econômico e outro qualitativo e quantitativo – sobre o projeto Xingu Solar, que, até o momento, recebeu a instalação de 70 sistemas de energia solar fotovoltaica pelo ISA. A potência total combinada é de 33.260 kWp, que abastecem 65 aldeias do Território Indígena do Xingu – localizado no Norte do Mato Grosso com divisa no Pará.
O serviço público de energia elétrica atende, aproximadamente, 98% da população brasileira. Cerca de 3 milhões de pessoas, no entanto, vivem em regiões que não estão conectados aos fios do Sistema Interligado Nacional (SIN) – que distribui a energia gerada pelas diversas fontes do País.
A maior parte destas pessoas – 70% precisamente – está na Amazônia, onde vivem mais de 173 povos indígenas. Vale destacar que a região é responsável por quase ¼ da capacidade instalada de energia elétrica no Brasil, exportando grande parte para outros locais pro meio do SIN.
Implantar a infraestrutura necessária para o fornecimento de energia via serviço público é um grande desafio na Amazônia ou em territórios mais afastados dos centros urbanos. Isso porque é preciso respeitar a diversidade cultural de povos indígenas, bem como o meio ambiente em questão.
A saída mais comum é utilizar sistemas de energia isolados, como geradores a diesel. No entanto, estas fontes locais não são seguras e nem sustentáveis. Elas apresentam problemas como emissão de ruídos e de gases prejudiciais à natureza, além de exigirem uma logística cara e complexa.
“A motivação deste estudo é discutir o acesso à energia elétrica aos brasileiros que vivem em áreas remotas na Amazônia, na expectativa de que o enfrentamento deste desafio se dê por meio de uma política pública articulada e inovadora que vá além do setor elétrico”, afirma Pedro Bara, pesquisador do IEMA.
O estudo avaliou os impactos econômicos do uso de painéis solares no Território Indígena do Xingu e os aspectos socioculturais e comportamentais locais com relação ao acesso à eletricidade. É preciso criar uma mudança de paradigma, que deve vir de uma matriz energética de fontes renováveis e limpas, portanto, sustentáveis.
Confira o estudo completo neste link.
Impacto nas contas públicas
Segundo os resultados, a combinação da produção de energia elétrica de geradores derivados de petróleo com painéis fotovoltaicos poderia trazer a economia de mais de R$ 360 mil por ano em subsídios federais, caso o atendimento fosse realizado no âmbito do programa Luz para Todos.
Esse potencial econômico é ainda mais expressivo se considerarmos que a população do Território Indígena do Xingu é de 8 mil pessoas e estima-se que até 2 milhões no País ainda não têm acesso. O valor de economia é decorrente da simulação do cenário em que as demandas reprimidas por energia elétrica na região seriam atendidas.
Se em um primeiro momento a tecnologia a diesel tem vantagem sobre a solar ao apresentar custos menores de aquisição, é preciso se atentar aos benefícios em longo prazo. O ciclo de vida de um painel solar é de 25 anos. Para realizar uma comparação econômica adequada entre as tecnologias, é prudente considerar as despesas operacionais (manutenção do gerador e abastecimento com combustível) em um período maior.
Em relação à poluição, apenas os geradores a diesel do Território Indígena do Xingu emitem cerca de 600 toneladas de CO2 por ano. Para compensar este impacto, seria necessário plantar árvores nativas em uma área equivalente a 74 campos de futebol – segundo estimativa baseada em dados do Projeto Carbono das Nascentes do Xingu.
Se as comunidades locais fossem atendidas apenas por geradores a diesel de acordo com a real necessidade, seriam emitidas cerca de 1.200 toneladas de CO2 por ano.
Preferência pela energia solar
A pesquisa também revelou que 96% dos habitantes de comunidades locais preferem energias renováveis ao invés daquela gerada por meio de fontes derivadas do petróleo. Os motivos principais são a maior segurança energética e os benefícios ambientais.
Os painéis solares foram instalados em construções de uso público e não em unidades familiares. A maior oferta de energia elétrica possibilitou expandir a utilização de equipamentos pequenos, como celulares e lanternas. Este, principalmente, é um item muito usado pelos moradores.
A realização de atividades como o ensino noturno também foi facilitada. Os cursos de formação para operação dos sistemas e a participação local na instalação foram mencionados como pontos positivos do projeto.
Outras vantagens citadas foram: inexistência de ruído; maior facilidade de manutenção por não possuir partes móveis como os geradores a diesel; e o fato de ser desnecessário o abastecimento com combustível. Neste caso, quando acaba o combustível, a região fica dependente da entrega do mesmo para ter energia elétrica.
Confira um vídeo realizado pelo IEMA com mais informações do estudo.