De acordo com empresas expositoras da Expo Revestir, a procura por produtos e soluções sustentáveis ainda fica restrita para público antenado.
O Going Green Brasil esteve presente na 17ª Expo Revestir – que aconteceu nesta semana, de 12 a 15 de março – para conferir como a sustentabilidade é tratada por público e empresas do ramo de revestimentos e acabamentos. A maior feira do segmento reuniu um público especializado, entre arquitetos, engenheiros, designers e revendedores, para apresentar materiais e soluções inovadoras.
Para Amanda Neme, engenheira química e coordenadora da Iniciativa Anfacer + Sustentável, a parcela de público que busca soluções sustentáveis ainda é pequena. Além disso, ela é formada por profissionais que já possuem esta consciência e atuam em projetos construtivos focados em certificações, como LEED e AQUA-HQE.
“Também há construtoras e revendas com foco maior em sustentabilidade que se interessam em produtos ou soluções que possam ajudar a criar certo diferencial. No entanto, as maiores procuras na feira são pelas novidades e lançamentos. Os diferenciais em sustentabilidade estão expostos, mas não são alvos de grande exploração por parte do público, assim como também são poucos explorados pelas empresas”, diz Amanda.
A competitividade de soluções sustentáveis diante de outras sem estas características existe, no entanto, é preciso bater na tecla de que o retorno acontece, geralmente, em médio ou longo prazo, dependendo da aplicação.
“Existe sim o crescimento pela procura do produto que protege a natureza, mas para se ter qualidade e sustentabilidade, o valor agregado acaba sendo mais alto. Algumas pessoas ainda não estão dispostas – ou não conseguem – fazer este investimento. A visão da utilização do material sustentável tem de ser em longo prazo, não podemos pensar só no retorno imediato”, afirma Lucas Chequer, diretor da Madeiras Ecológicas, participante da Expo Revestir 2019.
Para Taís Neubern, CEO da 1st Floor – empresa que também participou do evento neste ano –, os clientes estão mais preocupados com o apelo sustentável, principalmente dentro de suas residências. “As pessoas não querem mais produtos que não tenham valor agregado. Hoje a competitividade é grande, mas ainda pensando no futuro. Queremos conscientizar esta nova geração”, diz.
A falta de conhecimento e de divulgação eficiente das soluções já presentes no mercado é um dos fatores que explicam este interesse ainda concentrado em um nicho específico de profissionais.
De acordo com dados de 2017 da Anfacer – Associação Nacional dos Fabricantes de Cerâmicas para Revestimentos, Louças Sanitárias e Congêneres –, que é responsável pela promoção da Expo Revestir, o Brasil ocupa uma posição de liderança no mercado global de revestimentos cerâmicos.
O País é o terceiro maior produtor e consumidor do ramo em todo o mundo. São 790 milhões m² produzidos nacionalmente, com uma capacidade produtiva instalada de até 1.055 milhões m². A sustentabilidade é um fator essencial para impulsionar ainda mais o mercado.
A Iniciativa Anfacer + Sustentável tem como objetivo permitir que empresas brasileiras agreguem valores ambientais e sociais ao seus negócios, ao mesmo tempo em que geram resultados financeiros.
“A indústria de revestimentos cerâmicos é um elemento relevante na construção civil. As paredes internas, principalmente em áreas úmidas, pisos internos e externos são revestidos em sua maioria com revestimentos cerâmicos, visto os diferenciais em durabilidade, desempenho em uso e qualidade. Logo a Iniciativa Anfacer + Sustentável pode ser vista como um case para promover ações na cadeia e engajar outros setores de materiais para incorporar a sustentabilidade na estratégia”, explica Amanda, coordenadora do programa.
Saiba mais: Anfacer foca a questão sustentável no segmento de cerâmica e revestimentos
Lançado oficialmente durante a Expo Revestir 2019, a primeira fase foi focada no desenvolvimento de materiais para a demanda do mercado das construções sustentáveis, diagnósticos e mapeamentos macros. Agora, o trabalho se volta para a fase de engajamento e comprometimento individual das empresas com a associação.
“A construção mais direta está em uma comunicação clara dos diferenciais e atributos ambientais do revestimento cerâmico para colaborar e promover menor pegada ambiental da edificação, bem como colaborar com pontuação nos processos de certificação”, completa.
Confira soluções sustentáveis da Expo Revestir 2019
1st Floor
A empresa especializada em revestimentos diferenciados e altamente tecnológicos traz produtos provenientes de fonte de manejo sustentável, desde a criação até a instalação. A 1st Floor utiliza a cortiça como material principal em diversos produtos do seu catálogo, como revestimentos e acabamentos em pisos e paredes, além de forros.
A cortiça é um material de origem vegetal da casca dos sobreiros, mais leve e com grande poder isolante. Segundo Taís Neubern, a cortiça é 100% natural, assim, não agride a natureza seja na fabricação seja na decomposição.
“Temos vários produtos feitos a partir do material e todos eles oferecem conforto acústico e térmico, além de alto design e sustentabilidade. Conversamos cada vez mais com arquitetos para aproveitarem estes benefícios dentro de diversos ambientes”, conta a CEO da 1st Floor.
Cebrace
A Cebrace – produtora de vidros e espelhos – apresentou soluções para duas marcas durante a Expo Revestir: a Vivânce, linha voltada para a decoração, e a Habitat, com vidros de proteção solar que reduzem a entrada de calor em até 70%.
Chamados de vidros inteligentes, os produtos desta linha ajudam a diminuir a temperatura interna dos ambientes em até 10ºC em relação à externa. Se forem aplicados na versão laminada, também reduzem a entrada de raios UV, que são prejudiciais à pele e responsáveis pelo desbotamento dos materiais.
Além de ser benéfico economicamente, já que há economia no consumo de ar-condicionado e luz artificial, é preciso se atentar ao conforto interno. Os vidros permitem a entrada da luminosidade adequada, sem causar ofuscamento.
“Não basta apenas reduzir o consumo de energia, é importante propiciar mais conforto ao ambiente. A luz natural é necessária, mas em grande quantidade gera problema de ofuscamento e, consequentemente, o usuário fecha cortinas ou persianas. O vidro com proteção solar filtra a iluminação que vem de fora. Assim, você usa menos iluminação artificial, tem interação com o ambiente externo e reduz o calor que entra para o lado interno”, explica Luciana Teixeira, marketing da Cebrace.
Segundo Luciana, o apelo sustentável tende a continuar crescendo não apenas pela mitigação dos recursos naturais, mas, também, por outras questões. “Existem ofertas e demandas para IPTU Verde quando se tem uma edificação sustentável, por exemplo. Sentimos um movimento tanto do governo quanto do próprio consumidor, e principalmente dos profissionais da área, em estarem antenados com as mudanças e tendências do momento”, afirma.
Cerâmica Atlas
A Cerâmica Atlas, empresa do segmento de pastilhas de porcelana, levou lançamentos e novidades da sua linha sustentável para a 17ª edição da Expo Revestir. Em busca de um olhar mais consciente, a linha REC ganhou novo formato 40 x 40 cm, com quatro tonalidades: azul, amarelo e dois tons de verde. Os novos formatos foram elaborados pensando em ambientes internos, voltados para a decoração.
A fabricação dos revestimentos REC reaproveitam 65% de resíduos industriais da fábrica, como revestimentos cerâmicos e peças quebradas ou com defeitos. Além disso, após passar por um tratamento de efluentes, 80% da água do processo produtivo é reaproveitada.
“Ao invés de descartar os resíduos na natureza, você pode reutilizá-los. Hoje em dia participamos de vários projetos que exigem produtos sustentáveis. É um nicho que certamente vai dominar o mercado”, diz Rodrigo Silva Camarotti, merchandising da Cerâmica Atlas.
Knauf AMF
A Knauf AMF, empresa alemã especialista em soluções completas para forros e revestimentos acústicos arquitetônicos, apresentou seus produtos que consistem em forros acústicos modulares e monolíticos, murais para paredes e ilhas acústicas. Todos são feitos com matérias-primas sustentáveis, como fibra mineral, lã de rocha, fibra de madeira e metal.
“Todos os nossos produtos são sustentáveis. Dependendo do tipo e origem do produto, claro, a certificação é diferente. Para nós, elaborar um produto sustentável não é um caso isolado, todos eles devem ser sustentáveis e isso não atrapalha a nossa competitividade no mercado”, conta Fábio Miceli Teixeira.
Segundo ele, o público da feira ainda procura materiais arquitetônicos primeiramente pelo design, deixando a sustentabilidade em segundo plano. “Contudo, no momento em que os clientes descobrem que nossos produtos são sustentáveis, são feitos a partir de madeira de reflorestamento e certificados, isso se torna um plus importante”, completa.
Lepri
A Lepri, empresa de pisos e revestimentos cerâmicos rústicos, é uma das pioneiras quando o assunto é produção de cerâmicas sustentáveis, desde 2005. A marca investe na reutilização de resíduos para a fabricação de seus produtos.
“A cerâmica pode ser um grande reciclador de materiais. Hoje, todos os nossos produtos são, de alguma forma, reciclados. Nosso objetivo é abrir o mundo de arquitetos, engenheiros e designers”, diz José Lepri Neto, CEO da companhia.
Entre os materiais reaproveitados estão lixo eletrônico e lâmpadas fluorescentes, monitores de televisão e computadores, que após serem enviados para a reciclagem, têm os componentes separados, descontaminados e reutilizados como matéria-prima na fábrica da Lepri.
A empresa também possui uma linha feita com rejeitos de mineração, fabricados a partir dos rejeitos da barragem da cidade de Mariana (MG), após o desastre ambiental em 2015. “O futuro é sustentável. Temos que reciclar um monte de produtos, não tem mais onde descartar lixo no Brasil”, afirma o executivo.
José Lepri Neto também comenta que a redução da queima de combustível é fundamental para o desenvolvimento sustentável. “Temos um produto que é considerada a cerâmica do futuro, uma vez que ele é queimado a 400ºC, enquanto normalmente são 1.200ºC. É um terço da energia gasta, mas mantendo a alta qualidade da textura”, conclui.
Madeiras Ecológicas
A empresa Madeiras Ecológicas, que faz parte do grupo italiano Geofin, tem focado suas atenções nas fachadas ventiladas, que, além de ser ecologicamente corretas, diminuem o consumo de energia por manter o ambiente mais fresco.
Portando-se como uma alternativa confiável aos materiais tradicionais de madeira, a empresa recolhe a sobra da indústria moveleira – de processos e da madeira –, seleciona e reutiliza o que seria descartado. O mesmo é feito com a indústria do polietileno.
“As vantagens são retardar o descarte do material e aumentar o ciclo de vida dos materiais. A madeira que seria descartada vira um deck ou uma fachada, por exemplo. Também usamos alumínio na base, que tem uma vantagem de diminuir o ciclo de trocas e, consequentemente, o descarte inadequado”, diz Lucas Chequer.
Não à toa, a empresa possui o selo Green Building Council (GBC). “Exploramos bastante o uso do GBC para dar foco neste aspecto sustentável dos nossos produtos. Recebemos muitos projetos que querem pontuar na certificação LEED ou atender um determinado público”, completa.
Saint-Gobain
A Saint-Gobain reuniu suas marcas durante a Expo Revestir deste ano, criando um ambiente de sinergia e totalmente integrado. Brasilit, Isover, Placo e Weber levaram ao público consumidor produtos que aliam conforto, inovação e durabilidade, além de altos índices de sustentabilidade.
“A Saint-Gobain tem dois pilares: sustentabilidade e conforto, além de nossos materiais e produtos apresentarem altos níveis de desempenho. Nós optamos por criar ambientes que apresentam um mix de produtos das quatro marcas. Como estamos unindo todas elas, fica um pouco difícil para o público em geral saber onde aplicar os produtos que temos”, diz Tânia Nicolau Samuel, arquiteta e gerente de contas Habitat.
A Brasilit, conhecida pelos seus materiais e produtos para telhados, trouxe, entre outros, a telha Gravicolor. O produto, devido a sua composição e espessura, reflete a radiação solar, não irradia calor e não absorve umidade, auxiliando no desempenho sustentável da construção.
Outro destaque dos ambientes, apresentado pela Isover, são as nuvens acústicas Ecophon, desenvolvidas para amenizar a reverberação do som em ambientes internos, além de proporcionarem um apelo estético para a aplicação.