Horário de verão divide opiniões sobre a economia de energia. Consumo consciente por parte da população também é importante para reduzir o gasto.
O horário de verão 2018/2019 teve início às 00h do último domingo (4 de novembro), quando os relógios das regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste, além do Distrito Federal, foram adiantados em uma hora. Ao todo, o período terá 105 dias, com término no dia 16 de fevereiro de 2019. A medida, que aconteceu pela primeira vez em 1931, vem sendo adotada a 28 anos de maneira consecutiva. Mas, será que ela ainda se justifica?
Segundo o Ministério de Minas e Energia (MME), o propósito principal é reduzir a demanda máxima do Sistema Interligado Nacional (SIN) – sistema de produção e transmissão de energia elétrica do Brasil – no período de pico (das 18h às 21h), ou seja, quando mais pessoas, empresas e indústrias estão utilizando energia.
A sobrecarga ocorre por volta das 18h, quando a maioria da população retorna às suas casas e uma das primeiras ações é acender a luz e ligar aparelhos eletrodomésticos. É também o horário em que a iluminação pública nas ruas começa a ser operada. Essas práticas acabam coincidindo com o final do expediente de algumas empresas e fábricas, que ainda estão em funcionamento.
Com o adiantamento de uma hora e, consequentemente, o maior aproveitamento da luz natural, a iniciativa faz com que uma parcela da carga de iluminação seja acionada em um horário mais tardio do que normalmente, diluindo a concentração do gasto de energia para períodos alternativos.
Economia em cheque
Nos últimos anos, esta justificativa começou a ser colocada em questão. Segundo a Associação Brasileira das Empresas de Serviços de Conservação de Energia (ABESCO), a economia gerada não se justifica mais. “Os motivos para o horário de verão existir diminuíram ao longo do tempo. Esta prática já não tem tanta relevância como antes”, afirma Alexandre Moana, presidente da entidade.
Moana aponta para um movimento contrário, ou seja, para um leve aumento no consumo de eletricidade. A argumentação tem relação com o uso de aparelhos de ar-condicionado, o maior vilão quando se trata de consumo de energia em edificações. A utilização deste equipamento está associado ao aumento de temperatura que naturalmente ocorre no verão.
“O ar-condicionado não é que nem o chuveiro, que você liga durante cerca de 10 minutos. Se alguém liga este aparelho, geralmente, são para períodos maiores. Então, conclui-se que a temperatura é o que mais influencia os hábitos do consumidor e não a incidência da luz”, observa o presidente da ABESCO.
A Eletropaulo – empresa estatal de distribuição de energia em São Paulo – registrou durante o horário de verão 2017/2018 redução de 3,3% na demanda global de energia entre 18h30 e 21h29 em toda a sua área de concessão, que reúne 24 municípios da região metropolitana de São Paulo. A demanda se refere ao potencial de atender os consumidores residenciais e empresariais. Quando ela diminui, permite melhor distribuição da capacidade instalada e maior segurança da operação.
Em termos de consumo, nos 126 dias de horário de verão 2017/2018, a Eletropaulo economizou 54 GWh no horário de pico em toda a sua área de concessão. A energia poupada no período de maior consumo é suficiente para abastecer, por um mês, o município de Carapicuíba, que possui mais de 395 mil habitantes.
Em resposta ao portal Going Green Brasil, a Eletropaulo ressalta que a mudança na referência de horário permite mais aproveitamento da luz natural, contudo, isso não indica necessariamente redução no consumo de energia por parte da população, uma vez que o aumento do uso de alguns aparelhos eletroeletrônicos nessa época do ano – além do ar-condicionado, pode-se incluir ventilador, geladeira e freezer – pode ampliar o gasto de energia.
Segundo nota da empresa, “o horário de verão não traz prejuízo ao uso dos referidos equipamentos, considerando que a utilização ocorreria independente do adiantamento do horário. No entanto, é importante lembrar que quando se utiliza um equipamento por mais tempo, sua vida útil é reduzida”.
A CPFL Paulista – distribuidora da CPFL Energia que atende 234 cidades do interior paulista – prevê que o horário de verão 2018/2019 traga economia de 38,7 mil MWh no consumo de energia em sua área de concessão. Esse volume representa uma redução de 0,39% do consumo total dos seus municípios, o que seria suficiente para abastecer 16,1 mil famílias por um ano com um consumo mensal de 200 kWh – ou atender a cidade de Campinas (que possui mais de 1,1 milhão de habitantes), por exemplo, por quatro dias.
No período de pico, há expectativa de redução de 2,1% na demanda de energia, o que contribui para reduzir a geração das termelétricas, mais caras e poluentes.
Consumo consciente
A população deve ser alertada para o consumo consciente do recurso, além de ações para alcançar uma maior eficiência energética em eletrodomésticos. Alexandre Moana, presidente da ABESCO, revela que o ar-condicionado tem a possibilidade de ser ainda mais eficiente do que o chuveiro, desde que haja isolamento adequado do ambiente em que ele está instalado.
“O chuveiro tem 96% de eficiência energética. Já o ar-condicionado é variável. Por exemplo, se houver uma fresta aberta no ambiente, pode haver desperdício de cerca de 20% de energia. Já a instalação de um aparelho com tamanho diferente do ideal pode gerar mais de 30% de perda. Se a casa for construída com a parede mais fina do que deveria e o sol estiver batendo justamente nela, o gasto de energia, desnecessariamente, pode superar os 40%”, explica Moana.
A CPFL Paulista incentiva os seus clientes a aproveitarem o horário de verão para praticar hábitos de vida mais saudáveis e sustentáveis. Optar pela compra de eletrodomésticos com selo A do Procel é vantajoso, já que são mais eficientes e econômicos. Evitar o uso de benjamin para não sobrecarregar a tomada também é benéfico.
Confira outras dicas abaixo:
Chuveiros elétricos
- Colocar o chuveiro na posição “verão” reduz cerca de 30% do consumo de energia. Em algumas cidades, dependendo da temperatura ambiente, é possível até desligá-lo;
- Tomar banhos mais rápidos e desligar a torneira ao se ensaboar;
- Nunca reaproveitar uma resistência queimada, além de provocar aumento do consumo, é perigoso;
Geladeiras
- Instalar em local bem ventilado, desencostada de paredes ou móveis, longe de raios solares e fontes de calor, como fogões e estufas;
- Nunca utilizar a parte traseira para secar panos, roupas ou tênis; nem colocar alimentos quentes na geladeira;
- Não forrar as prateleiras (a falta de ar circulando entre elas exige mais consumo de eletricidade);
- Não deixar a porta aberta por muito tempo e manter as borrachas de vedação em bom estado;
Iluminação
- Apagar a luz ao sair de um ambiente;
- Substituir as lâmpadas incandescentes e fluorescentes para tecnologia LED pode trazer uma economia de até 80%;
Ar-condicionado
- Evitar o ar-condicionado por longos períodos e com temperaturas muito baixas, o que provoca esforço demasiado nos equipamentos;
- Priorizar a compra de aparelhos com a tecnologia inverter, cujos motores são mais eficientes e econômicos;
- Manter os filtros do ar limpos diminui o esforço do motor;
- Manter os ambientes bem arejados – com abertura de cortinas e janelas – reduz a necessidade de ar-condicionado e ventiladores, além de manter o ar sempre renovado.