Desde que foi lançada, em 1998, a Certificação LEED vem revolucionando o mercado da construção sustentável, buscando sempre atingir os mais altos níveis de operação de alta performance, design e eficiência em edificações do mundo todo. Pensando em melhorar, ainda mais, os resultados conquistados por construções certificadas e em atender os novos desafios em relação a sustentabilidade, o Green Building Council lançou a nova versão da Certificação LEED, o LEED v4.
Com o objetivo de elevar os padrões técnicos da construção civil sustentável, uma nova versão da certificação LEED foi desenvolvida, com base em estudos e discussões entre profissionais, técnicos, entidades do mercado da construção do mundo todo. Esta nova versão começou a ser discutida em 2010, mas só foi lançada oficialmente em 2013, e passou a ser obrigatória no Brasil em outubro de 2016. Esses três anos de transição permitiu com que o mercado brasileiro começasse a se preparar para atender as novas exigências da certificação.
A grande proposta do LEED é elevar os padrões técnicos da construção civil como um todo. Por tanto, quando esses padrões são alcançados o movimento natural é fazer com que eles se tornem cada vez mais elevados e rígidos. Acompanhando este processo, critérios e pontuações da certificação mudaram.
“O LEED v4 tem alguns desafios novos, especialmente na parte de sistemas prediais, que faz com que itens e sistemas que antes eram fundamentalmente estratégias de eficiência passem a ser obrigatórios, elevando significativamente a régua. Isso tem influenciado principalmente projetos de new construction e interiores, onde temos os sistemas efetivamente entregues”, comenta Adriana Hansen, coordenadora de Projetos Sustentáveis do CTE.
Em relação aos quesitos que pontuam nesta nova versão ficaram distribuídos da seguinte forma: 35% as ações relacionadas às mudanças climáticas, 25% à saúde, recursos hídricos 15%, biodiversidade 10%, recursos naturais 10%, economia verde 10% e comunidade 5%.
Entretanto, as principais mudanças se encontram na categoria que trata da eficiência energética, bem como em relação ao uso eficiente da água, com uma abordagem que entende muito melhor o uso eficiente dos recursos hídricos na construção como um todo, e a grande novidade são os rígidos critérios da categoria de materiais.
O uso eficiente da água ganhou grande destaque nesta nova versão. A água está conectada a todos os sistemas da construção, e todos eles são afetados por ela. Por tanto, a nova versão do LEED enxerga o uso da água como um todo, considerando o uso interno e externo, mensurando todo uso dos recursos hídricos relacionados ao prédio, incluindo sistemas de ar condicionado, instalações e sistema de irrigação, com o intuito de monitorar e controlar o uso de água de forma que não haja desperdícios. O LEED v4 também encoraja projetos que fazem o reuso dos recursos hídricos.
A parte de materiais é a grande novidade, e também o ponto mais polêmico. Com foco no ciclo de vida dos materiais, envolvendo também a transparência de informações sobre o produto e sua matéria prima, há também a exigência de Declaração Ambiental de Produtos (apenas um não garante o crédito, conforme tabela abaixo). Este quesito é de grande importância porque os materiais utilizados na edificação podem afetar diretamente a saúde dos ocupantes. Por isso, a preocupação do LEED em trazer informações claras e mudar a forma como os materiais são escolhidos.
“Temos um desafio muito grande na parte de materiais, porque ainda não temos o mercado preparado para esta demanda. A análise do ciclo de vida, health product declaration e a parte de composto orgânico volátil são itens que o mercado vai ter que correr atrás”, afirma Adriana.
Há também uma nova categoria “localização e transporte”, com o objetivo de estimular projetos que diminuam ao máximo o impacto dos transportes. O primeiro paço para o desempenho ambiental é escolher uma boa localização, de fácil acesso e com uma boa infraestrutura ao redor. Esta nova categoria também encoraja projetos que privilegiam o acesso a pé, por transporte público ou alternativos, como as bicicletas.
Porém, em grandes centros urbanos, como São Paulo, não é muito fácil encontrar bairros que integrem os princípios de crescimento planejado e inteligente, urbanismo sustentável e edificações verdes, o que dificulta a pontuação nesta categoria, como afirma Adriana. “Uma dificuldade é a pontuação pesada, no caso de interiores e new construction, para edificações em bairros certificados. A gente não tem a certificação de LEED Neighborhood promovida no mercado brasileiro, e essa tipologia entrou como um item forte na nova versão da certificação, que não sendo aplicável e prejudicando a pontuação geral”.
A certificação LEED v4 é, de fato, um desafio para o mercado brasileiro. Mas é um desafio que faz crescer e trilhar um caminho cada vez mais sólido rumo a um futuro sustentável. Esse é o papel do LEED, ser um padrão internacional de design, construção e estruturas operacionais de alta performance.
“A maior contribuição do LEED v4 foi a mudança de visão na abordagem de materiais, o v4 vem com uma abordagem de promover mais a transparência de informação do que ser descritivo em performance. Então, é uma mudança de posicionamento, ele quer muito mais que os fabricantes tenham documentos que falem o que o produto dele é, do que propriamente falando do que o produto tem que ser. Portanto, o que vemos de grande mudança, e gerou muita discussão, é esse capítulo de materiais, mas eu acho que ele enriqueceu muito esse trabalho, porque é um setor que precisa melhorar e se voltar mais para a sustentabilidade”, finaliza Adriana.
Materiais: O grande desafio do LEED v4
A categoria de materiais e produtos é a grande inovação do LEED v4, como afirma Felipe Faria, CEO do Green Building Council Brasil, “a grande novidade é em relação aos materiais e recursos. Tudo que já falávamos sobre a questão de conteúdo reciclado, tintas selantes, níveis baixos de compostos orgânicos voláteis, enfim, tudo que já era pedido na parte de materiais, agora está inserido no conceito de avaliação do ciclo de vida e declaração ambiental do produto”. Este item em particular gerou muita discussão por conta do alto grau de exigência e por ser algo novo no mercado.
A versão 4 é essencialmente focada no ciclo de vida de toda a edificação, e para garantir o ciclo de vida antes, durante, e depois da obra, a certificação passa a exigir uma Declaração Ambiental de Produtos (DAP), ou Environmental Product Declarations – a famosa sigla em inglês, EPD, dos produtos e materiais utilizados.
A grande contribuição que o EPD traz ao empreendimento é a transparência de informações sobre os produtos aos fornecedores, clientes e usuários finais sobre o que realmente contém no produto, fazendo com que este público seja capaz de avaliar o desempenho ambiental de diversos fornecedores. Antes, essas informações eram auto declaratórias, ou seja, o próprio fabricante declarava as informações de seus produtos sem que fossem submetido a uma auditoria realizada por terceira parte.
O desenvolvimento de um EPD passa por três etapas: definição de Regras por Categoria de Produto (PCR); depois desenvolve-se um estudo de Avaliação do Ciclo de Vida (ACV); a partir da conclusão das suas etapas anteriores é elaborado o documento EPD. Este documento só será válido após passar por uma auditoria por terceira parte para obtenção de um registro efetivo, que posteriormente será publicado.
Para garantir a transparência e imparcialidade de todo esse processo, entra em ação o Operador de Programa (OP), o seu papel é conduzir o processo e envolver as respectivas partes em cada etapa do processo. Para que isso aconteça, o OP nunca trabalha sozinho, as partes interessadas devem estar sempre presentes durante o processo. Assim como os verificadores de ACV sempre devem ser externos.
Portanto, como explica Cintia Cespedes, project manager da UL Environment, “O primeiro passo para elaboração de um EPD é verificar se já existe uma RCP para uma determinada categoria, e sempre que houver uma RCP disponível ela deve ser usada. Nesse sentido, quando o Operador recebe uma demanda de um determinado segmento para o desenvolvimento de uma RCP, é de sua responsabilidade consultar a existência ou não de uma RCP para o mesmo escopo. Se houver, o Operador deve fazer uma harmonização com o outro Operador que desenvolveu a RCP para poder utilizá-la em seu processo ou mesmo realizar uma atualização ou adendo, se for necessário”.
“Quando não existe uma RCP para um determinado segmento, após consulta realizada, o Operador deve convocar as partes interessadas para iniciar o desenvolvimento do nova RCP, e a criação da RCP propriamente dita, envolve pesquisa sobre o setor, identificação dos impactos ambientais associados ao segmento, verificação da existência de dados sobre o setor, entre outras informações de extrema importância para a conclusão do processo, por isso, a participação do setor é importante para o processo”, conclui.
Para garantir que o EPD do produto é equivalente ao exigido pelo LEED v4 é preciso atender os critérios listados a seguir. A certificação aceita três opções de EPD, entretanto, há uma variação de pontuação entre elas. Também é necessário que, pelo menos, 20 produtos que atendam aos requisitos listados abaixo sejam instalados na obra.