Abertura do Smart City Expo debateu o pensamento transversal e focado nos cidadãos, além de abordar carros elétricos, políticas públicas e gestão urbana.
O Smart City Expo Curitiba, realizado na semana passada (entre os dias 21 e 22 de março) na capital paranaense, celebrou um crescimento de 30% em relação à edição do ano passado. Em 2019, foram mais de 6.700 participantes de cidades de todo o País e de 25 cidades do exterior que conferiram novidades e debateram ações para políticas de cidades inteligentes.
A palestra inaugural ficou por conta da pesquisadora Ana Carla Fonseca, autora do livro “Cidades Criativas”. Pensar a cidade de forma transversal, com suas diversidades sociais, econômicas e culturais e que respeite todos os cidadãos que nela vivem, foi o grande mote do primeiro dia.
Durante a palestra, Ana Carla ressaltou ainda os impactos provocados pela crescente tecnologia. “O uso do Waze – aplicativo de localização geográfica – por exemplo, faz com que as pessoas percam sua noção de orientação espacial. Estamos delegando funções para a tecnologia”, disse durante a palestra.
Segundo a pesquisadora, é fundamental dentro do processo de criação de ferramentas para fomentar o desenvolvimento de uma cidade inteligente valorizar as diversidades existentes nas cidades. “É um processo que possui diversas interrelações e vários desafios. É um desafio para as cidades conviverem com essa necessidade de se tornarem criativas diante de uma realidade em que o trabalho está cada vez mais automatizado e disperso. As pessoas estão mais móveis para desempenhar seu trabalho”, ressaltou.
O Smart City Expo 2019 compreendeu o congresso e a exposição. O evento é chancelado pela FIRA Barcelona, organizador do Smart City Expo World Congress, realizado anualmente em Barcelona. A empresa curitibana especializada em soluções para smart cities, iCities, foi a responsável pela organização do evento no Brasil, em parceria com as Prefeituras de Curitiba e Vale do Pinhão.
Antes da palestra proferida pela pesquisadora Ana Carla, participaram da abertura do evento o prefeito de Curitiba, Rafael Greca; o vice-governador Darci Piana; o prefeito de Campinas e presidente da Frente Nacional dos Prefeitos (FNP), Jonas Donizette; o sócio-fundador do iCities, Roberto Marcelino; e o CEO da Fira Barcelona, Ricardo Zapatero.
Incentivo fiscal para carros elétricos
Durante o primeiro dia do Smart City Expo Curitiba 2019, o governador do Paraná, Ratinho Júnior, anunciou que o estado será o primeiro do Brasil a conceder incentivo fiscal para estimular a produção e o uso de carros elétricos.
O projeto de lei, que propõe zerar a alíquota de IPVA de veículos elétricos, que hoje é de 3,5%, foi assinado pelo governador no evento, juntamente com o chefe da Casa Civil do Estado, Guto Silva, o prefeito de Curitiba, Rafael Greca, e Roberto Marcelino, diretor do iCities.
Foi apresentada ainda uma proposta de convênio ao Conselho Nacional de Política Fazendária (Confaz) para que o Estado possa isentar o ICMS para a aquisição desses veículos. A medida é um incentivo ao uso de energia limpa para o transporte. “A ideia é diminuir cada vez mais o preço dos veículos elétricos e torná-los mais acessíveis à população”, afirmou Ratinho Júnior.
A escolha do governador em anunciar a medida no Smart City 2019 casa com as questões sobre mobilidade, biodiversidade e bem-estar social que nortearam as palestras e os debates realizados durante a manhã e tarde do primeiro dia de evento.
“É impossível pensar a tecnologia sem ter o ser humano como foco. Se a tecnologia não transforma a vida das pessoas, ela não terá servido de nada. É preciso identificar as necessidades da comunidade de uma cidade e usar a tecnologia em prol dessas demandas”, afirmou o pesquisador e palestrante, Caio Esteves.
Um dos pontos altos dos debates foi a apresentação de John G. Jung, cofundador do Intelligent Community Forum Canadá (ICF) e criador do conceito de Comunidades Inteligentes. Jung destacou que Curitiba é exemplo de cidade que consegue unir parcerias público-privadas com uma atuação forte dos cidadãos.
“Cidades inteligentes precisam ter eficiência, infraestrutura, banda larga e dados. Mas, e as pessoas? Como elas estão utilizando essas coisas? Devemos lembrar das mães solteiras, dos idosos, de toda as comunidades. Essas pessoas têm ideias, nenhuma ideia é menor. Precisamos fazer com que todos participem para que as pessoas estejam no centro da discussão. Isso é ser uma cidade inteligente”, declarou.
Políticas públicas para cidades
Mediado pela jornalista Andrea Sorgenfrei, editora-executiva do jornal Gazeta do Povo (PR), o debate “Liderança e Políticas Públicas para Cidades” trouxe prefeitos e representantes de diferentes organizações para falar sobre os desafios de implementar os ideais de uma cidade inteligente.
Jonas Donizette, presidente da Frente Nacional de Prefeitos (FNP) e prefeito da cidade de Campinas (SP), falou sobre o conceito de governança inteligente e como o governo municipal pode fazer uma gestão inovadora.
“Nós damos incentivo fiscal, capacitação, apoio a empresas de base, tentamos inovar organizacionalmente, implantamos o governo digital e fazemos parcerias com a academia e a iniciativa privada. Por outro lado, as empresas geram o empreendedorismo e as universidades, o ensino formal, a extensão e ensinam o empreendedorismo”, destacou.
Relatório Observatório de Cidades Inteligentes
O Observatório Brasileiro de Cidades Inteligentes (OBCI) lançou o primeiro relatório da entidade durante o Smart City Expo Curitiba 2019. O objetivo do documento é explicar o que é uma cidade inteligente e como essas práticas podem ser aplicadas pelos municípios brasileiros.
A OBCI foi lançada na edição do ano passado do evento e tem como meta trazer informações e exemplos de iniciativas desenvolvidas em diferentes países, para que os legisladores possam idealizar projetos de leis relacionados ao desenvolvimento de smart cities.
A medida é fazer que, por meio deste relatório, vereadores e deputados estaduais e federais tenham novos conhecimentos acerca de como a tecnologia pode contribuir para o desenvolvimento das cidades.
“Mapeamos as melhores legislações acerca de cidades inteligentes para que no nosso País seja possível equalizar as leis para o bem-estar das pessoas. É um trabalho gradativo que estamos realizando de maneira intensa”, afirmou Robert Janssen, um dos idealizadores do projeto.
Com esse relatório, algumas ideais desenvolvidas em outros municípios do exterior podem ser aplicadas no Brasil. “Um dos exemplos é o uso dos patinetes eletrônicos. É possível pensar em leis para que, a longo prazo, o uso desses dispositivos não se torne um problema tanto no trânsito quanto nas calçadas. Tem como normatizar o uso”, afirma Janssen.
Gestão urbana
Durante o segundo dia foram realizadas diversas palestras que abordaram a importância de conectar os cidadãos aos novos modelos de desenvolvimento urbano.
Como afirmou Alfonso Santiago, diretor da Escola de Governo, Política e Relações Internacionais da Universidade Austral, de Buenos Aires (Argentina), é preciso atuar por meio de um intercâmbio de experiências em diversas áreas. “O espírito humano deve prevalecer sobre a tecnologia. Toda política pública perpassa pelos cidadãos”, salientou.
O mesmo foi destacado por Fábio Conte, do iCities, que ressaltou que “a cidade inteligente somos nós. A gente que faz as mudanças e interfere nas políticas públicas. É necessário manter um diálogo entre cidades inteligentes e políticas públicas”, salientou.
O pesquisador Pascal Toque destacou que a necessidade de pensar em smart cities requer refletir em mecanismos para conectar e integrar as pessoas por meio de tecnologias de comunicação na gestão urbana. “Isso irá estimular de forma eficiente o planejamento colaborativo e a participação cidadã”, disse.
Planos diretores para cidades inteligentes
Cinco prefeitos se reuniram na plenária principal do Smart City Expo 2019 para discutir os desafios, soluções e oportunidades para que seus municípios se tornem cidades inteligentes. O debate foi composto pelos prefeitos Rafael Greca (Curitiba), Antonio Carlos Magalhães Neto (Salvador), Felicio Ramuth (São José dos Campos), Gustavo Costa (Guarulhos) e Udo Dohler (Joinville). O encontro foi mediado por Daniel Annenberg, Secretário Municipal de Inovação e Tecnologia de São Paulo.
Na abertura, Greca ressaltou que escolheu a inovação como estratégia de governo para gerir Curitiba. “Inventei o conceito de Vale do Pinhão, na capital paranaense, para atrelar o nome da cidade com a tecnologia. Hoje temos startups que ganharam projeção internacional, projetos educacionais para que crianças aprendam robótica e tecnologia. Provocar a inovação é preciso, por isso Curitiba já é destaque como uma das cidades mais inteligentes do mundo”, afirmou o prefeito.
Para o prefeito de São José dos Campos (SP), Felício Ramuth, a tecnologia no setor público precisa estar associada à remuneração de serviço e não de produto. “É um erro achar que o poder público pode resolver tudo sozinho. No processo privado, o parceiro faz o investimento na frente, o que agiliza a implantação. E a remuneração é pelo tempo da concessão do serviço”, observou.
Gustavo Costa, prefeito de Guarulhos (SP), ponderou que é necessário adequar a solução à cidade e ao montante de investimento em questão. O prefeito de Salvador (BA), ACM Netto, disse que está sendo implantada na capital baiana uma rede de infovias.