Sistema construtivo steel frame aumenta os níveis de produtividade e sustentabilidade da construção ao trazer uma solução industrializada.
A chegada do steel frame ao mercado de construção civil trouxe mais uma opção de desenvolvimento sustentável às obras e edificações. Trata-se de um sistema construtivo industrializado formado por estruturas de aço galvanizado revestidas com placas – que podem ser de madeira OBS, cimentícia ou drywall –, que oferece diversas vantagens para o processo de construção, entre elas, produtividade e sustentabilidade.
Vários fatores indicam que a industrialização é um ótimo caminho para o setor de construção civil. Afinal, sistemas padronizados tendem a possuir mais qualidade e demandar menos tempo de obra, alcançando índices mais altos de produtividade. Uma construção em alvenaria requer, muitas vezes, gastos que não estavam previstos inicialmente – como a compra de mais material e desperdício de recursos naturais –, o que tornam o orçamento final mais caro. Além disso, são altamente prejudiciais ao meio ambiente, gerando resíduos durante a obra e poluindo a natureza.
No entanto, não é possível afirmar que o custo de uma construção em steel frame seja menor em comparação com as técnicas tradicionais em alvenaria. O que se pode dizer é que com o sistema, é possível ter um controle maior da obra, dificilmente saindo do planejado. Hoje em dia, a competitividade entre os dois tipos de construção é muito forte. “O sistema é muito interessante para quem constrói, justamente por permitir uma construção limpa, seca e planejada, com uma baixa necessidade de manutenção”, afirma Fábio Villas Bôas, coordenador do comitê de Meio Ambiente do Sindicato da Indústria da Construção Civil de São Paulo (Sinduscon-SP) e diretor da Tecnisa.
Processo construtivo
A facilidade de trabalhar com o steel frame faz com que a produtividade da obra seja maior, além de diminuir os custos com mão de obra. As etapas geralmente consistem em: planejamento, terraplanagem, fundação, montagem estrutural, telhado, instalação elétrica e hidráulica, fechamentos internos e externos e, por fim, acabamento. “Entre as vantagens em aderir o sistema de steel frame, pode-se destacar redução dos prazos de execução, diminuição do peso da construção, controle no processo e na qualidade da obra, utilização de componentes industrializados, ótimos desempenhos térmico e acústico, redução de mão de obra no canteiro e diminuição significativa da geração de resíduos”, diz Lucas Gouvêa, diretor comercial da Fastcon.
O peso da construção é um fator importante para o desenvolvimento sustentável da obra em steel frame. Por utilizar materiais mais leves, consequentemente, todas as atividades que sustentam o peso da edificação – como a fundação – acabam tendo uma carga menor. “A fundação mais comum nestes casos é a do tipo radier – uma laje em concreto armado leve e simples de executar –, aplicável na maioria dos solos, como terrenos com topografia mais acidentada. Ela utiliza técnicas de engenharia, como muros de arrimo e estacas, que tem a sua dimensão reduzida em função da leveza da edificação”, explica Lucas.
Gouvêa ainda comenta que o sistema possui uma grande versatilidade, adaptando-se a qualquer projeto arquitetônico, mesmo aqueles desenvolvidos para construção convencional. “As aplicações em steel frame abrangem diversos tipos de construção, como residenciais e prédios com até cinco pavimentações”, afirma o diretor da Fastcon, empresa especializada no sistema construtivo.
Por ser uma construção industrializada, a estrutura dos painéis pode ser pré-montada fora do canteiro de obras. Outro destaque positivo é o uso de materiais sustentáveis. O aço com o qual é feito a estrutura principal, por exemplo, é um dos itens mais recicláveis do mundo. Já as placas de revestimento que formam as paredes – ao invés de usar tijolos – também contribuem fortemente para a obra limpa e seca, uma vez que não geram resíduos e têm a sua quantidade totalmente planejada, evitando qualquer transtorno ou remanejamento durante a obra.
“A construção com o steel frame é quase como se fosse uma montagem. Ela oferece uma grande modularidade, onde é possível fazer qualquer tipo de solução sem quebrar paredes e blocos. A construção limpa e seca não tem a necessidade de utilizar recursos naturais, como água, e não desperdiça material, como argamassa”, diz Fábio.
Em relação aos tipos de cobertura, praticamente todos estão adequados ao steel frame, como lajes impermeabilizadas, telhados verdes ou embutidos, telhado termoacústico e, até mesmo, telhado colonial de concreto. “Outra facilidade enorme é na hora de preparar as instalações elétricas, hidráulica, de dados, entre outras, que podem ser passadas por dentro dos painéis sem nenhum problema e de forma limpa, racionalizando material e tempo de obra”, afirma o representante do Sinduscon-SP.
O isolamento termoacústico é uma das vantagens do steel frame em relação á construção em alvenaria, oferecendo maior conforto para o usuário da edificação. São aplicadas lãs – de vidro, rocha ou PET – de várias espessuras, conforme a necessidade do ambiente, para garantir o desempenho elevado. Chegando ao final da construção, as opções para fechamentos – tanto externo quanto interno – são variadas. A placa cimentícia é a mais utilizada no Brasil para o fechamento externo, principalmente por dar uma aparência semelhante às construções em alvenaria. Ela pode receber qualquer tipo de acabamento, como pedras, pinturas, texturas, porcelanatos, entre outros.
Para o fechamento interno, podem ser usadas placas de drywall – gesso acartonado – do tipo standart para áreas secas, enquanto as áreas molháveis recebem um tipo com mais resistência à umidade. O acabamento é feito de forma segura e bastante prática, podendo utilizar qualquer tipo de pintura, textura, cerâmica, porcelanato, papel de parede, entre outros. Vale destacar que há um ganho de área interna, já que as paredes de edificações em steel frame têm espessuras menores que tijolos e blocos.
Resistência do mercado
Apesar dos benefícios, a solução não é amplamente explorada no Brasil e ainda pairam muitas dúvidas em relação a sua utilização, principalmente em questões de segurança e durabilidade. “Construir uma edificação completamente com steel frame no Brasil é muito difícil, pois poucas empresas possuem esta solução. No entanto, é um sistema muito interessante e que, atualmente, é bastante usado de forma parcial nas obras, tanto para área externa – para fachadas – quanto interna – para a divisão da estruturação”, afirma Fábio, do Sinduscon-SP.
Embora largamente conhecida e aproveitada em vários lugares do mundo, especialmente Estados Unidos, e apresentando grandes resultados, a resistência no Brasil vem, principalmente, por falta de conhecimento. “O brasileiro acredita que coisas pesadas e maciças são mais duráveis e têm desempenho melhor. Uma grande restrição do mercado é aquele barulho oco que é percebido quando se bate na parede. O mercado traduz isso como algo frágil e de baixa durabilidade, o que não é verdade”, completa.
Apesar desta característica, a resistência é a mesma de uma feita em alvenaria. “Em casos de abalos sísmicos é, até mesmo, superior”, afirma Lucas Gouvêa. A durabilidade, assim como a alvenaria, chega a ser mais de 100 anos. Além disso, o steel frame atende plenamente às normas do Corpo de Bombeiros e da ABNT em relação à resistência contra incêndios.
Case certificado
Recentemente, a construtora Greenwood, recebeu a certificação GBC Casa nível Ouro – concedida pelo Green Building Council Brasil, com o projeto da Casa Onda, situada na cidade de Castro (PR). O projeto tem assinatura da arquiteta Mônica Menarim Requião.
A Casa Onda foi construída com o sistema steel frame, juntamente com a alvenaria convencional em sua estrutura. A escolha por este processo se deu devido aos aspectos de execução rápida, pouca geração de resíduos e sustentáveis.
“Como o pavimento térreo foi executado com a estrutura de concreto armado e vedações com blocos cerâmicos e o superior em steel frame, conseguimos inicialmente fazer o pavimento térreo liberando a construção do pavimento superior para outra equipe e desenvolver os serviços em conjunto de toda obra, otimizando o tempo total de execução”, explica Syonara Thomé, engenheira civil e diretora da Construtora Greenwood.
Segundo ela, o planejamento executado anteriormente permite que se faça um quantitativo específico, especialmente no aço e em placas de gesso utilizadas, o que determina a pouca geração de resíduos.
Nestes casos, o maior desafio é o planejamento arquitetônico da casa. Tudo deve ser bem pensado, inclusive o acabamento, pois qualquer alteração pode impactar no cronograma de execução. “O steel frame é concebido para execução rápida e os materiais já vem pré-formatados para a obra justamente para que sejam utilizados sem muita transformação”, alera Syonar. Para Mônica Menarim Requião, a estética orgânica da Casa Onda reforça sua proposta sustentável. “O steel frame foi uma opção que tem um forte impacto positivo, em termos de sustentabilidade. O aço é um material de altíssimo nível de renovação. Além disso, a estrutura é toda parafusada. Praticamente não tem desperdício de material”, comenta a arquiteta responsável pelo projeto.
Referência nacional em construção sustentável, o GBC Brasil reconhece casas e condomínios que são construídos de forma socioambiental adequada, enfrentando desafios ambientais como o uso racional de água; conservação de energia; redução da geração de resíduos e das emissões de gases de efeito estufa; qualidade ambiental interna; entre outros.