Diretora executiva do Conselho Colombiano de Construção Sustentável detalhou o Programa Acelerador de Eficiência Energética em Edificações (BEA), em Bogotá.
Bogotá, capital da Colômbia, pode ser considerada atualmente como uma das cidades mais sustentáveis da América Latina. Várias medidas foram tomadas ao longo das últimas décadas para acabar com a sensação de insegurança na metrópole e fazer com que ela crescesse com foco em sustentabilidade. Uma das ações foi o Programa Acelerador de Eficiência Energética em Edificações (BEA), do Conselho Colombiano de Construção Sustentável (CCCS).
O BEA é um dos seis programas de ações de eficiência no âmbito da iniciativa internacional denominada Energia Sustentável para Todos – SE4ALL, na sigla em inglês – da Organização das Nações Unidas (ONU) e do Banco Mundial.
A SE4ALL surgiu em 2014 e tem como intuito promover três metas globais até o ano de 2030: garantir o acesso universal aos serviços de energia modernos; dobrar a taxa global de melhoria na eficiência energética; e dobrar a participação de energias renováveis em conjunto com a energia mundial.
O CCCS é uma organização privada sem fins lucrativos fundada em 2008, cujo objetivo é garantir, com melhores práticas de planejamento urbano e construção sustentável, ambientes prósperos, ambientalmente responsáveis, inclusivos e saudáveis para todos.
O Conselho é membro efetivo do Conselho Mundial de Construção Sustentável (WorldGBC) desde novembro de 2009 e parceiro estratégico de instituições com atividades em Bogotá, Cali e Montería; o Green Building Council (USGBC) e o Green Business Certification Inc. (GBCI) para o Programa LEED na Colômbia.
O Going Green Brasil conversou com Viviana Valdivieso, diretora executiva do Conselho Colombiano de Construção Sustentável (CCCS), que explicou mais a respeito do programa e como ele vem evoluindo nos últimos anos. Confira:
Como surgiu o Programa Acelerador de Eficiência Energética em Edificações (BEA)?
O SE4ALL é coordenado pelo Instituto dos Recursos Mundiais – WRI, na sigla em inglês – e promove oito categorias de políticas e medidas para apoiar os líderes e governantes das cidades na tomada de decisões a respeito de planejamento urbano, cumprimento dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e nos compromissos nacionais inscritos no Acordo de Paris em 2015.
Em 15 de junho de 2016, a Secretaria Distrital de Planejamento de Bogotá assinou um memorando de entendimento com o WRI por meio da qual a cidade se vinculou ao Programa BEA para receber apoio metodológico, técnico e financeiro durante o período de setembro de 2016 e dezembro de 2019.
Ao entrar no Programa BEA, Bogotá se comprometeu a cumprir com os seguintes objetivos: implementar uma política pública que ajude a dobrar a taxa de eficiência energética, em linha com o segundo objetivo da iniciativa SE4ALL; implementar um projeto demonstrativo e emblemático, definindo um objetivo de desempenho relacionado com a política; desenhar e implementar um mecanismo de seguimento para medir e reportar o progresso anual da política e do projeto em direção à eficiência energética.
A coordenação técnica do programa está a cargo do CCCS, designado como “sócio-líder local” na Colômbia.
Quais são os principais pontos de ação do BEA?
Em agosto de 2017 – depois de um processo colaborativo entre mais de 25 atores nacionais e locais da indústria da construção foi feito, por parte dos secretários distritais de Planejamento e Ambiente –, o Plano de Ação Bogotá do BEA, e dessa forma a cidade e sua equipe de trabalho, se comprometeram com o desenvolvimento das seguintes metas: implementar efetivamente a Resolução 549 de 2015 do Ministério de Habitação e Território nas edificações novas de Bogotá; incentivar a eficiência em água e energia de planos parciais de desenvolvimento e renovação na cidade, especificamente o plano parcial Progresa Fenicia; e avaliar os impactos da implementação da política no projeto piloto e no nível da cidade.
Em 2018 foi entregue o documento “Bases técnicas para o desenvolvimento do Protocolo de Implementação da Resolução 549 de 2015 em Bogotá”, que constitui as bases técnicas que a cidade adotará por meio de uma resolução local que será emitida durante o primeiro semestre de 2019.
Da mesma forma, três produtos foram entregues para aumentar a eficiência em água e energia no Projeto Piloto Progresa Fenicia, que foram: diretrizes para o ecourbanismo; recomendações para eficiência energética e água e construção sustentável em edifícios; e uma ferramenta para quantificar a redução das Emissões de Gases de Efeito Estufa através da implementação efetiva da Resolução 549 de 2015 neste projeto.
Até 2019 esperamos ter os primeiros resultados do Sistema de Monitoramento e Notificação da Resolução 549 de 2015 na cidade e os primeiros incentivos normativos para a implementação de uma poupança superior aos regulados por tal resolução, por meio do Plano de Ordenamento Territorial (POT).
Durante 2018 também foi construída uma proposta de colaboração nacional/subnacional, através da qual a experiência de Bogotá poderia fornecer feedback aos processos de outras cidades do País para a formulação de seus códigos locais de construção sustentável. Isso foi constituído em uma segunda fase do programa.
Como foi a receptividade da população de Bogotá em relação às medidas?
Durante o período de formulação do Protocolo de Implementação, foram desenvolvidos processos de socialização e oficinas focais nas quais mais de 25 atores locais participaram, fornecendo as informações necessárias para que as decisões tomadas sobre o assunto estivessem corretas. Um dos grandes desafios foi obter o aval de construtores e incorporadores, que, por ser um programa de eficiência energética e construção sustentável, receberam as propostas e decisões técnicas com dúvidas.
Foram construídos espaços para solucionar questionamentos sobre o programa, com o objetivo de demonstrar que é possível atender aos objetivos de sustentabilidade e ecoeficiência em edifícios com um custo-benefício eficiente. Ao longo de 2018, para a primeira fase, mais de 20 reuniões e oficinas de socialização e um piloto de demonstração foram realizados.
Em relação aos custos, quais foram os ganhos econômicos com a transformação sustentável da cidade?
Por meio do Protocolo de Implementação, a cidade está recebendo uma ferramenta que permite o cumprimento das regulamentações nacionais para economizar água e energia, com aumentos nos custos diretos da construção entre 0% e 1%, dependendo do caso. Isso constitui um avanço importante, uma vez que representa custos excedentes mais baixos do que aqueles previamente definidos pela referida resolução.
Hoje, a Colômbia tem 372 projetos imobiliários registrados no LEED, o que confirma o sucesso retumbante dessa certificação no País
Atualmente, quais são as medidas sustentáveis que Bogotá adota?
O programa BEA coordenado pelo WRI promove oito categorias de políticas e medidas para apoiar os líderes das cidades na tomada de decisões sobre planejamento urbano e no cumprimento dos ODS. Destas oito categorias, para Bogotá foram selecionadas quatro ações focadas em políticas públicas e na dinâmica do setor privado para a eficiência energética. Estas são:
- Desenvolver, adotar e implementar códigos e/ou padrões de eficiência em edifícios;
- Desenhar programas e mecanismos de incentivo que contribuam com fundos para melhorar a eficiência energética de novos edifícios;
- Envolver proprietários, administradores e ocupantes na melhoria constante da eficiência energética em edifícios;
- Documentar o desempenho energético e promover certificações para facilitar decisões informadas sobre investimento imobiliário e melhorias no desempenho em relação às metas.
O principal desafio ainda é aumentar a economia de água e energia?
Espera-se que, com o programa BEA, um marco importante possa ser cumprido: o cumprimento maciço de padrões mínimos de eficiência hídrica e energética. No entanto, este seria o primeiro passo para enfrentar os principais desafios focados nas outras etapas do ciclo de construção para gerar bem-estar e reduzir o impacto ambiental por meio de novas iniciativas, como os edifícios Neto Cero Carbon.
Qual etapa atual da certificação LEED na Colômbia?
Hoje, a Colômbia tem 372 projetos imobiliários registrados no LEED, o que confirma o sucesso retumbante dessa certificação no País. Destes, 162 já foram certificados e outros 210 estão em processo de certificação. Esses projetos estão localizados em 49 cidades e 23 departamentos (estados). Isso faz do País a quarta região com o maior número de projetos registrados no LEED na América Latina.
Veja também: Cresce o número de projetos registrados LEED no Brasil em 2018
O crescimento que a certificação teve na Colômbia demonstra que existe um mercado importante e dinâmico para os edifícios que contribuem para mitigar a mudança climática, fazer um uso racional dos recursos, gerar maior valor para os seus proprietários e, acima de tudo, ter um efeito positivo na saúde, bem-estar e felicidade das pessoas.
O posicionamento e credibilidade do movimento de construção sustentável na Colômbia tem sido possível graças à liderança dos membros do CCCS. Nesses 11 anos, demonstraram amplamente os benefícios e a viabilidade econômica de projetar, construir e operar projetos imobiliários de alto desempenho com critérios de sustentabilidade integral.
O País hoje valoriza a importância e a relevância das centenas de projetos imobiliários validados por padrões reconhecidos internacionalmente, como o LEED e o sistema de certificação CASA Colombia para o segmento habitacional que, até o momento, totaliza 5 projetos habitacionais, 3 dos quais são soluções para habitação social.
Além disso, os resultados do recente relatório “World Green Building Trends 2018” da Dodge Data Analytics, no qual a CCCS oficializou como parceiro local, destacam a Colômbia no Top 5 dos países em que os benefícios da construção sustentável, como baixos custos operacionais e melhora na saúde ocupacional, são identificados como os mais importantes. O primeiro aspecto foi selecionado por 74% dos participantes do estudo e o segundo por 63% deles.
Esta pesquisa destacou que durante 2018 na Colômbia, 19% dos desenvolvedores imobiliários indicaram que mais da metade de sua carteira era composta por projetos que incluem práticas de sustentabilidade. Estima-se que até 2021 esse percentual chegue a 46%, tornando-nos um dos países com o crescimento mais rápido dentre os 86 participantes da pesquisa.