Mais de 70% da superfície do Planeta Terra é coberta por água. Apesar disso, 96% desse total é de água salgada, ou seja, imprópria para consumo. Do que resta, mais de 1% está congelado. Esses dados são importantes para que se reflita o quão precioso é esse líquido. O Brasil é um país repleto de recursos hídricos, cerca de 12% das reservas de água doce do mundo estão em território nacional. Apesar disso, devido ao tamanho do país diferentes climas e ecossistemas encontram-se no mesmo território. Grande parte dessa água está em determinadas partes do país. É comum que muitas cidades enfrentem períodos de estiagem e seca, ou que essa seca se estenda para locais que normalmente recebem chuva abundante, como o vivido pela região Sudeste em 2015.

Por isso, toda ação de conscientização quanto ao uso racional dos recursos hídricos é bem-vinda. Com o objetivo de promover o uso apropriado desses recursos em edificações, em dezembro de 2016 foi criada a Comissão de Estudo de Conservação de Água em Edificações. A Comissão vai elaborar normas para a conservação de água, visando maior eficiência. Serão elaboradas duas normas: a de conservação de água em edificações, que vai elaborar diversas ações para o uso eficiente da água e o uso de fontes alternativas, e a segunda se refere ao uso fontes alternativas de água não potável em edificações, como a adoção de critérios na adesão de fontes alternativas não potáveis.

Em 2005, foi lançado um manual com orientações de como o reuso de água deve ser feito para servir de base às construtoras, mas ainda sem regulamentação obrigatórias. Com a crise hídrica de 2015 o assunto voltou a ser fortemente discutido. “A grande motivação para a criação da Comissão de Estudo de Conservação de Água foi a lacuna técnica, que explicasse como fazer da forma certa e para que os nossos estudos possam servir de embasamento para as legislações e normas futuras, porque muitas das existentes estão incorretas”, afirma Lilian Sarrouf coordenando o COMASP – Comitê do Meio Ambiente, Segurança e Produtividade do SindusConSP.

“Temos visto que os movimentos de construções sustentáveis e as certificações estão induzindo para que se pense na questão da água. Percebemos também que na busca da certificação havia edifícios que estavam sendo obrigados a fazerem o reuso de água e fontes alternativa, mas eram iniciativas muito pontuais. Só que faltava uma regulamentação técnica, tem essa lacuna na ABNT, não existe uma norma técnica esclarecendo o que é reuso de água, quando é viável ou não”, diz Lilian

As normas vão tratar da terminologia, requisitos, procedimentos, diretrizes, projetos, execução, manutenção e operação. Serão elaboradas duas normas: a de conservação de água em edificações e a de uso de fontes alternativas de água não potável em edificações. Elas deverão ser aplicadas em edificações residenciais e/ou comerciais urbanas, sejam novas ou existentes.

Segundo Virgínia Dias de Azevedo, diretora técnica da Infinitytech Engenharia e Meio Ambiente, as normas de conservação de água deverão ser incorporadas desde o projeto de novas construções. “Temos que começar a pensar no projeto de conservação de água no nascimento do edifício, trazendo uma visão integrada da conservação em todas as disciplinas correlatas. O projeto de hidráulica precisa considerar a regionalidade da edificação, o perfil do usuário, os acessos para manutenção/operação adequada, as interferências existentes, com o levantamento do maior número de informações possíveis para uma boa caracterização hídrica da edificação, após esta análise partimos para a elaboração do balanço hídrico da edificação, avaliando as demandas e ofertas de água existente, avaliando a partir dos aspectos técnicos e econômicos as possíveis ações de conservação a serem implantadas”.

Em linhas gerais, são diversos fatores envolvidos com a conservação que vão desde os projetistas das edificações até o usuário final. Para alcançar este objetivo é de fundamental importância que todas as etapas da construção da edificação estejam alinhadas com o conceito de conservação de água: desde a concepção do projeto, especificação dos equipamentos a serem implantados, como também todos os critérios de execução e da operação/manutenção da edificação.

 

A conscientização e monitoramento do uso próprio da água também é um fator de extrema importância para evitar desperdícios. “É de importância fundamental que os gestores e usuários conheçam com maior grau de precisão o consumo de água nas edificações, o levantamento dos indicadores de consumo, a implantação da medição individualizada e detecção de pontos críticos devem preceder a adoção das ações de conservação de água, direcionando-as, permitindo o acompanhamento da eficácia das ações”, afirma Virgínia.

 

Os benefícios da adoção das normas de conservação de água devem ser avaliados a partir de um estudo das características hídricas de cada edificação para que se chegue ao conhecimento profundo das necessidades dessa construção, para assim desenhar quais são as alternativas e soluções que podem ser tomadas.

 

“Após uma análise completa da edificação, precisamos ter um raio-X da situação real da edificação, ou seja, precisamos realizar uma boa caracterização hídrica desta edificação, para estudarmos as demandas e ofertas na edificação, com a elaboração do balanço hídrico conseguiremos definir quais são as possíveis alternativas a serem adotadas. A escolha de qualquer alternativa deve ser embasada sempre em critérios técnicos e económicos. O objetivo principal das normas é dar orientação técnica para que todos os cuidados e critérios de projeto sejam seguidos, visando acima de tudo a proteção e preservação da saúde do usuário do sistema de água”.

 

Não podemos esquecer que estamos lidando com algo que interfere diretamente na saúde das pessoas, incluindo atividades de higiene pessoal, limpeza da edificação e outros serviços específicos como irrigação e o sistema de refrigeração. Dessa forma, a análise do benefício econômico deve levar em consideração todos esses aspectos.

A comissão é composta pelo SindusConSP, ABNT CB002, GBC Brasil, Abrasip, Abrinstal, Anamaco, CBCS, CBIC, SECOVI SP, pelas empresas Docol, Duratex/Deca, Pinasant, Setri, Tecnisa, Trisul e Tesis  (Organismos de Avaliação da Conformidade), além de diversos estudiosos.

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