Portfólio do indiano inclui diversos projetos residenciais de baixo custo, além de empreendimentos culturais e educacionais, sempre conectados ao meio ambiente.
Em atividade há mais de 70 anos, o indiano Balkrishna Doshi foi o vencedor do prestigiado prêmio Pritzker de arquitetura em 2018. Conhecido também como B.V. Doshi ou apenas Doshi, o profissional teve destacados pelo júri do prêmio seu regionalismo, simplicidade e preocupação com o terreno em torno de seus projetos como atributos que o levaram a esse reconhecimento.
Nascido em Pune, na Índia, Doshi fundou seu escritório em 1956, combinando ensinamentos de seus mestres – com destaque para o suíço-francês Le Corbusier – à sua vivência no país oriental. Entre seus projetos de destaque estão as habitações de baixa renda Aranya, construídas em 1989 em Indore para atender mais de 80 mil pessoas, e seu próprio estúdio, chamado Sangath, que combina abóbadas de concreto a espaço verde, espelhos d’água e outros elementos naturais.
O arquiteto, que já foi ele próprio júri do Pritzker entre 2005 e 2009, foi descrito pelos avaliadores deste ano como “extremamente consciente do contexto em que seus edifícios estão inseridos”. Os aspectos sustentáveis aparecem em sua obra tanto pela união de elementos construídos e naturais quanto pela preocupação social em atender pessoas carentes. “Todo o planejamento da comunidade, a escala, a criação de espaços públicos, semipúblicos e privados são testemunhos de sua compreensão de como as cidades funcionam e da importância do projeto urbano”, seguem os jurados.
Além do projeto das habitações Aranya, outra contribuição ao mesmo tempo arquitetônica e social do vencedor do Pritzker foi o projeto de Chandigarh, cidade planejada para ser capital do estado de Punjabe. Ele foi o responsável por planejar os espaços para milhares de funcionários do governo que trabalharam no local. Doshi também fundou, em 1960, uma Escola de Arquitetura, hoje chamada de Centro de Planejamento e Tecnologia Ambiental (CEPT), e projetou a galeria de arte Amdavad ni Gufa, dedicando-se por diversas vezes a projetos educacionais e culturais.
Veja abaixo algumas imagens de projetos de Balkrishna Doshi, e, depois, a citação completa do júri do prêmio Pritzker, traduzida pelo portal Archdaily.
Citação do júri
O arquiteto indiano Balkrishna Doshi tem continuamente apresentado em sua obra os objetivos do Prêmio Pritzker de Arquitetura no mais alto grau. Tem praticado a arte da arquitetura, mostrando contribuições substanciais para a humanidade, há mais de 60 anos. Ao conceder-lhe a medalha deste ano, o júri do Prêmio Pritzker reconhece sua arquitetura excepcional, refletida em mais de uma centena de edifícios que realizou, seu compromisso e sua dedicação ao país e às comunidades que serviu, sua influência como professor e o excelente exemplo que estabeleceu para profissionais e estudantes de todo o mundo ao longo de sua longa carreira.
Doshi, como é chamado por todos os que o conhecem, trabalhou com dois mestres do século XX – Le Corbusier e Louis Kahn. Sem dúvida, os primeiros trabalhos de Doshi foram influenciados por esses arquitetos, como pode ser visto nas formas sólidas de concreto que empregou em alguns de seus projetos. No entanto, Doshi elevou a linguagem de seus edifícios para além desses modelos iniciais. Com uma compreensão e apreciação das profundas tradições da arquitetura indiana, uniu pré-fabricação e técnicas locais e desenvolveu um vocabulário em harmonia com a história, cultura, tradições locais e as mudanças pelas quais seu país de origem, a Índia, passava.
Ao longo dos anos, Balkrishna Doshi sempre criou uma arquitetura sóbria, jamais extravagante ou em busca de tendências. Com um profundo senso de responsabilidade e um desejo de contribuir com seu país e seu povo através de uma arquitetura autêntica de alta qualidade, realizou projetos para administrações e serviços públicos, instituições educacionais e culturais e residências para clientes particulares, entre outros.
Realizou seu primeiro projeto para habitação de baixa renda na década de 1950. Em 1954, declarou: “Parece que eu deveria fazer um juramento e lembrá-lo por toda a minha vida: proporcionar à classe mais baixa habitações adequadas.” Ele cumpriu esse juramento pessoal em projetos como a Habitação de Baixa Renda Aranyaem Indore, de 1989, no centro-oeste da Índia, e a Habitação Cooperativa de Renda Média em Ahmedabad, de 1982, e muitos outros. A habitação como abrigo é apenas um aspecto desses projetos. Todo o planejamento da comunidade, a escala, a criação de espaços públicos, semi-públicos e privados são testemunhos de sua compreensão de como as cidades funcionam e da importância do projeto urbano.
Doshi é extremamente consciente do contexto em que seus edifícios estão inseridos. Suas soluções levam em consideração aspectos sociais, ambientais e econômicos e, portanto, sua arquitetura está totalmente comprometida com a sustentabilidade. Usando pátios, jardins e passagens cobertas, como no caso da Escola de Arquitetura (1966, agora parte do CEPT), da Sede da Companhia de Eletricidade de Madhya Pradesh em Jabalpur (1979), ou do Instituto Indiano de Gestão em Bangalore (1992), Doshi criou espaços para proteger do sol, desfrutar a brisa e oferecer conforto e prazer dentro e em torno dos edifícios.
No estúdio do arquiteto, chamado Sangath (Ahmedabad, Índia, 1980), podemos ver as qualidades notáveis da abordagem e compreensão da arquitetura de Balkrishna Doshi. A palavra Sangath significa, em sânscrito, acompanhar ou mover-se. Como adjetivo, incorpora aquilo que é apropriado ou relevante. As estruturas são semi-subterrâneas e totalmente integradas às características naturais do terreno. Há um fluxo natural de terraços, espelhos d’água, barreiras e abóbadas que são elementos formais distintos. Há variedade e riqueza nos espaços internos, que possuem diferentes qualidades de luz, diferentes formas, bem como diferentes usos, ao passo que são unidos através do uso do concreto. Doshi criou um equilíbrio e uma paz entre todos os componentes – materiais e imateriais – que resultam em um todo que é muito mais do que a soma das partes.
Balkrishna Doshi demonstra constantemente que toda boa arquitetura e planejamento urbano não devem apenas unir o propósito e a estrutura, mas devem levar em consideração o clima, o terreno, a técnica e as práticas tradicionais, além de uma profunda compreensão e apreciação do contexto no sentido mais amplo. Os projetos devem ir além do funcional para se conectarem com o espírito humano através de fundamentos poéticos e filosóficos. Por suas numerosas contribuições como arquiteto, planejador urbano e professor, por seu inabalável exemplo de integridade e incansáveis contribuições para a Índia e além, o júri do Prêmio Pritzker de Arquitetura nomeia Balkrishna Doshi vencedor do Prêmio Pritzker 2018.