Revitalização de calçadas, áreas verdes e iluminação são iniciativas que propiciam maior valorização do entorno e da construção.
Uma simples intervenção pode interferir todo um ambiente e a vida das pessoas que ali vivem, de forma simples e direta, tanto para o bem quanto para o mal. Há muitos exemplos de como a arquitetura e a construção podem ser agentes transformadores da sociedade e, nesta matéria, vamos abordar como um edifício consegue atuar de forma a melhorar o entorno no qual está inserido.
Desenvolver projetos que transcendem a demarcação dos terrenos com um olhar 360º gera impactos e soluções para as vidas dos moradores e da vizinhança externa. Esta visão surge quando os responsáveis entendem que os stakeholders de um edifício imobiliário vão além da incorporadora, construtora e seus clientes diretos. A sociedade deve ser vista como um agente ativo, assim, o projeto pode tomar decisões mais integradas com a mesma.
“Os projetos devem ir além de diagnósticos superficiais e pouco embasados. Precisamos ter a responsabilidade de nos aprofundar nas análises socioeconômica, física e cultural, abrangendo visões e informações diversas para que o projeto tenha o máximo de impacto positivo naquela comunidade”, afirma Douglas Tolaine, arquiteto e design principal do escritório global Perkins+Will.
Ao planejar com responsabilidade uma nova construção, é preciso estar atento aos impactos gerados na comunidade em volta. Quando bem planejado, não somente a população é beneficiada, mas todo o bairro é valorizado. Geralmente, a valorização ocorre em dois sentidos.
“É muito provável que ocorra uma valorização financeira dos imóveis situados na localidade, uma vez que o empreendimento atrairá um novo interesse pelo espaço. Haverá também a valorização urbana, já que a região irá dispor de mais atrativos e potencialidades, fazendo com que a população desfrute melhor de uma região que antes era subutilizada”, explica Raissa Martins da Silva Araújo, arquiteta e urbanista formada pela Universidade de Ouro Preto (MG).
Segundo ela, a iniciativa também proporciona uma ótima imagem da empresa, aumentando a sua aceitação e, consequentemente, a procura pelos seus empreendimentos. “Além disso, uma boa infraestrutura valoriza o local como um todo, elevando a atratividade e o valor das unidades habitacionais do edifício, bem como de terrenos e imóveis na região”, completa Raissa.
Quais ações podem ser realizadas?
Todo novo empreendimento tem o potencial de ser transformador, isso só depende de como ele será pensado – se de forma individual ou coletiva. Simples ações urbanas possuem um valor enorme para o bem-estar e a qualidade de vida da comunidade, tais como: alargamentos de calçadas com pisos adequados, pequenos jardins abertos para a rua, iluminação adequada, criação ou recuperação de áreas públicas de lazer, entre outras opções.
“Estas ações podem trazer movimento para a área e a possibilidade de inserção de outros estabelecimentos comerciais. Por tabela, traz segurança para a entrada dos empreendimentos e região. Com essa qualidade percebida pelos moradores locais, novos empreendedores são estimulados a acreditarem no bairro em questão, estimulando condomínios vizinhos a fazerem melhorias para requalificar”, diz Grazzieli Gomes Rocha, sócia-diretora do escritório de arquitetura Aflalo/Gasperini.
O diálogo com a população é fundamental para descobrir quais são as expectativas e necessidades perante o novo empreendimento. Diante deste questionamento, as iniciativas podem ter resultados muito mais assertivos e detalhados. Vale ressaltar, no entanto, que construtoras ou incorporadoras devem se relacionar com os órgãos públicos competentes e com demais fornecedores de serviços para o desenvolvimento destas ações.
Para Grazzieli, os arquitetos possuem uma obrigação humana e urbana em propor iniciativas como estas, de compartilhar espaços de qualidade e educar a sociedade para hábitos mais saudáveis de preservação e cuidado da cidade, que é de todos e para todos. Iniciativas deste perfil trazem uma sensação de pertencimento e preservação da região.
“Dependendo da localização e escala do projeto, podemos ter atitudes ainda maiores em prol de uma sociedade maior e mais carente. Temos um projeto no qual existe a construção de habitações sociais, criação de novos parques ou, ainda, edifícios institucionais públicos, tudo isso com o intuito de recuperar”, afirma.
Fazer além
Os projetos de arquitetura e construção não devem ser explorados apenas sob a ótima dos fatores formais, mercadológicos e referentes às tendências de mercado. É preciso considerar o impacto de novas intervenções no contexto urbano e social. O ser humano tem a necessidade de conviver com outros indivíduos e estimular isso é um papel essencial deste setor.
“Nosso objetivo é abraçar cada vez mais a diversidade e transformar os espaços em ambientes mais humanizados, de forma a incentivar a convivência, troca de experiências e colaboração. Uma edificação pode e deve valorizar o entorno e não somente utilizar o conceito de extrativismo social. Precisamos estimular a inclusão e ter capacidade de abordar de forma responsável os fatores socioculturais, necessidades, legislação, funções e estética de forma adequada ao implantar um novo ‘objeto’ no espaço, para que essa transformação seja feita de forma equilibrada e integrativa”, diz Douglas Tolaine, do escritório Perkins+Will.
A relação do edifício com o entorno deve adotar os preceitos relativos à sustentabilidade como um todo. Assim, práticas implantadas no projeto, adotadas no canteiro de obras e na operação da edificação precisam atender aspectos ambientais, sociais e financeiros.
“É importante alinhar as atividades da empresa com ações de proteção e conservação do meio ambiente, através de diferentes atitudes. Por exemplo: utilização de tecnologias mais limpas; otimização do uso de recursos naturais; preservação da biodiversidade e redução, reciclagem e reutilização de resíduos materiais”, completa Raissa.
As ações sociais – como atividades recreativas, montagem de feiras, campanhas sociais, entre outras – também contribuem para a satisfação pessoal dos moradores e consequente conservação do local. Agindo desta maneira, o compromisso e a preocupação com o desenvolvimento sustentável da comunidade estarão completos, contribuindo para as atuais e futuras gerações.