Paulo Mancio, executivo do grupo AccorHotels, aborda temas como inovação, sustentabilidade, arquitetura e design no setor hoteleiro.
Um dos maiores grupos hoteleiros do mundo, a AccorHotels tem se reinventado quando o assunto é construção, arquitetura e design de seus projetos. Nos últimos anos, a rede investiu em inovação dos seus hotéis e experiência aos seus hóspedes e clientes. A nova forma de pensar engloba todos os processos da empresa, no entanto, tudo deve começar pela concepção do projeto.
De acordo com Paulo Mancio, SVP de Design e Construção da AccorHotels América do Sul, o investimento em projetos torna os hotéis muito mais inteligentes, interessantes e flexíveis. A sustentabilidade não está de fora do planejamento do grupo, que sempre esteve comprometido com o desenvolvimento sustentável – tanto próprio quanto da sociedade – através do Planet 21, programa que abrange funcionários, clientes e parceiros para impulsionar o crescimento sustentável.
Para fomentar este novo conceito de hospitalidade, a AccorHotels promove a 3ª edição do Design & Technical Summit – Cutting Edge Hospitality, evento que promete trazer um novo olhar em arquitetura e design para o setor. “Com muito mais design, inovação em serviços e espaços multifuncionais, a hotelaria não terá apenas a função de estabelecimentos comerciais, mas de espaços urbanos abertos para seus visitantes e a sociedade”, afirma Paulo.
O Design & Technical Summit ainda premiará projetos voltados para as áreas de arquitetura, design de interiores, hotelaria e engenharia e de serviços. O objetivo é destacar inovação, tecnologia, eficiência em processos, sustentabilidade, criatividade e viabilidade. Saiba mais sobre o evento que acontece no próximo dia 28 de agosto, em São Paulo, no site www.summitaccorhotels.com.br.
Confira abaixo a entrevista exclusiva de Paulo Mancio para o Going Green Brasil.
O que a AccorHotels está buscando de inovação na construção dos seus projetos?
A grande inovação que estamos propondo nos últimos anos para as obras dos nossos hotéis é, principalmente, o investimento na área de projetos. Nós tínhamos produtos com padrões e conceitos muito bem definidos. O hóspede podia entrar em qualquer hotel da marca íbis – em Amsterdã ou em Sorocaba –, por exemplo, que iria encontrar tudo igual. Isso era um motivo de orgulho, mas que mudou. Hoje em dia, nós somos cada vez mais únicos. As redes sociais ditam esta tendência, na qual todos querem ter a sua própria identidade. Aquela coisa chata e sempre igual de hotel ficou cansativa, assim, é necessário mudar se quisermos proporcionar uma nova experiência.
A Accor vem investindo profundamente na questão de fazer projetos únicos e inovadores, onde os espaços são exclusivos e mais flexíveis. Por exemplo, a recepção de hotel sempre teve como característica aquele balcão grande e pesado, agora, as áreas estão mais flexíveis, os móveis são de fato móveis e não imóveis. Estamos fazendo uma recepção onde é possível realizar uma festa, o lançamento de um produto, um encontro intimista ou mais aberto. Ou seja, é um espaço mais interessante. Portanto, esta é a grande inovação conceitual que estamos adotando tanto na América do Sul quanto ao redor do mundo. O investimento em projetos torna nossos produtos muito mais inteligentes, interessantes e flexíveis.
Como a sustentabilidade está inserida nas obras da Accor?
Trabalhamos com sustentabilidade muito antes dela se tornar algo tão presente como é hoje em dia. A AccorHotels já tinha processos e procedimentos que estão ligados a eficiência energética, preservação de recursos naturais, redução de impacto ambiental e etc. O primeiro fator para se fazer uma obra sustentável é elaborar um bom projeto e planejamento. Como a Accor é de origem francesa e tem uma cultura europeia muito presente, nós começamos a obra somente quando os projetos estão de fato concluídos, o que ajuda muito a alcançar nossas metas sustentáveis. Trabalhando bem este eixo estratégico, as demais tecnologias que usamos são complementares. Entre as diversas soluções sustentáveis que aplicamos nos nossos projetos, acredito que estas três são essenciais.
Painéis solares: praticamente todos os nossos projetos possuem painéis solares para realizar o pré-aquecimento da água. Fazemos um estudo em cada empreendimento, analisando região, tipo de insolação, quantidade de placas que seriam necessárias, etc., para saber se é viável fazer a instalação do equipamento. Por isso, nem todos os hotéis possuem painéis solares. Sempre utilizamos um sistema misto, no qual os painéis têm uma função de pré-aquecimento da água, conseguindo diminuir de 30% a 35% do consumo de energia.
Lâmpadas de LED: nós usamos lâmpadas de LED de 4ª geração, que possuem um ganho enorme em termos de durabilidade, qualidade e sustentabilidade. Elas não consomem nem 15% de energia em comparação com as lâmpadas incandescentes que eram usadas há décadas, além de poderem durar de 15 a 20.
Ar-condicionado: cerca de 60% da conta de energia de um hotel é provinda do sistema de ar-condicionado. Trata-se de um item fundamental para o bom funcionamento do estabelecimento, a boa experiência do cliente e, claro, para a gestão financeira. Nós temos o cuidado de usar equipamentos que sejam de baixo consumo, optando pelo sistema VRF – em português significa Fluxo de Refrigerante Variável. Este sistema funciona somente on demand, ou seja, o compressor só será acionado se o hóspede demandar mais refrigeração ou climatização, consequentemente, consumindo menos energia quando não for necessário. É um sistema absolutamente inteligente.
Como a automação está inserida na hotelaria e quais são os seus benefícios?
Em todo estabelecimento é fundamental que se tenha controle da sua gestão e você consegue centralizar este controle por meio de um dashboard (quadro de controle). Além da centralização, é possível ter uma automação digital e inteligente.
Imagine uma bomba que envia água para a caixa central, no momento em que ela recebe um sinal de que o recipiente está cheio, o sensor será ativado e a bomba vai parar de funcionar. Assim, você deixa de consumir energia e não esgota a quantidade de água além do necessário. A mesma solução pode ser aplicada em toda parte de iluminação e compressores de ar-condicionado.
Outra vantagem é a otimização da gestão, uma vez que é mais fácil e eficaz controlar todas as áreas do empreendimento. Além disso, há uma maior economia financeira e, consequentemente, sustentável. O hotel irá consumir menos energia, gás e água, vai ter maior qualidade na gestão como o controle de iluminação que não é necessária em determinados períodos da operação, automação de abertura e fechamento de cortinas, entre outros. Também é possível construir cenários e utilizar a automação para criar experiência para o cliente, criando iluminação e temperatura adequadas para momentos específicos. A automação é um recurso muito inteligente e interessante quando bem aproveitado, é preciso saber apenas trabalhar as suas necessidades para conseguir adquirir eficiência e sustentabilidade.
As tecnologias e soluções são aplicadas mundialmente pela rede. Como elas estão inseridas no contexto brasileiro?
Nós temos opções de soluções nacionais e importadas. Quando fazemos um hotel, tentamos ao máximo – e muitas vezes conseguimos – construir ele 100% com equipamentos e produtos fabricados localmente. Isso acontece no Brasil que, atualmente, tem soluções e serviços factíveis de serem implantados e usados em nossas construções, além de fornecedores extremamente qualificados. Existem algumas tecnologias que ainda não são possíveis de encontrar no País, como o chip do VRF que comando o sistema de ar-condicionado. Algumas partes do equipamento são fabricadas no Brasil e outras somente no exterior. Portanto – assim como é feito em outras indústrias, como a automotiva –, alguns equipamentos podem ser importados.
Quantos hotéis do grupo são certificados no Brasil?
Nós temos cerca de cinco hotéis com a certificação LEED (Leadership in Energy and Environmental Design), concedida pelo Green Building Council. No entanto, é importante ressaltar que a Accor não trata a certificação como um fim e, sim, os meios de sustentabilidade. Nós temos um planejamento sustentável abrangente e muito forte dentro da empresa, antes mesmo de existirem certificações verdes, já tínhamos a sua nossa cartilha de sustentabilidade chamada Planet 21. Ela revela todos os itens que nós devemos seguir em termos de sustentabilidade e nos orienta como devemos acompanhar e avaliar cada detalhe. Por exemplo, se um determinado empreendimento tem energia solar, como a solução está funcionando, qual é o resultado obtido e etc. Este é o nosso planejamento interno, sem ninguém externo avaliando estas questões. As certificações sustentáveis são consequências deste trabalho.
A Accor é a primeira a implantar o sistema de geração distribuída em hotéis. Como irá funcionar?
Nós assinamos um contrato com uma empresa de São Paulo para fazer a geração distribuída de energia. Quando uma empresa externa monta uma usina de geração de energia como meio sustentável, com soluções sustentáveis, ela recebe um beneficio de tarifa das instituições relacionadas à distribuição de energia, como a Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL). Esta empresa pode revender a energia que foi sustentada por meio da usina. A Accor, entendendo esta oportunidade, alugou parte de uma usina de geração distribuída para começar um projeto piloto de 13 hotéis em São Paulo para utilização dessa energia. Portanto, temos um primeiro impacto sustentável que acontece durante a geração de energia por meio da usina e um segundo impacto bastante interessante economicamente para a empresa.
Falamos muito de tecnologias e soluções sustentáveis, mas a conscientização de pessoas também é importante. Como é o trabalho neste ponto de vista?
Em relação aos nossos colaboradores, eles estão integrados ao programa Planet 21. Temos um canal de comunicação com eles para a conscientização deste trabalho em todos os nossos eixos estratégicos, informando quais são os impacto e resultados, além de mostrar qual é o papel de cada um nisso tudo. A comunicação traz engajamento e entendimento em prol da sustentabilidade. E por meio dos nossos colaboradores, estamos permanentemente buscando informar para os clientes e hóspedes quais são os benefícios de ser mais sustentável. O grande entendimento da Accor é o legado que será deixado para a sociedade.