O especialista francês falou sobre a relação das cidades inteligentes com a sustentabilidade e transformação digital durante o Conecticidade.
O Conecticidade, evento realizado pela Fundação Vanzolini nos dias 21 e 22 deste mês, levou para um público especializado – entre profissionais e acadêmicos – discussões importantes acerca de cidades inteligentes, tecnologia, inovação e urbanismo. O destaque foi a participação de Patrick Nossent, presidente da Cerway e Certivéa – e um dos nomes mais importantes da certificação HQE ao redor do mundo.
Durante a sessão de abertura, o professor João Amato Neto, presidente da Diretoria Executiva da Fundação Vanzolini, ressaltou a pertinência de tratar este assunto frente os desafios que os grandes centros urbanos enfrentam atualmente.
“Começamos a discutir este evento há dois anos, a Vanzolini contribui muito para o fortalecimento da economia e da indústria de São Paulo e em todo o Brasil. Cidades inteligentes é um tema multidisciplinar e nós sempre estivemos de olho nas novas tendências que surgem no mercado”, afirmou Amato.
Para ele, é preciso pensar a cidade como um sistema de produção de serviços, de todas as atividades – saúde, educação, tecnologia, alimentação, etc. Um dos grandes desafios é a mudança para a economia circular, algo que a Engenharia de Produção pode ajudar.
“É interessante olhar pelo âmbito da Engenharia da Produção, já que ela abrange diversas disciplinas que conversam entre si. A Tecnologia da Informação tem mudado o nosso dia a dia e temos que saber como tirar proveito disso. Aproximar a indústria e a academia é fundamental para alcançar desdobramentos positivos neste campo”, completou o presidente da Fundação.
Patrick Nossent traz visão internacional
Destaque do Conecticidade, o francês Patrick Nossent falou para uma plateia cheia em uma palestra que abordou sustentabilidade, smart cities, transformação digital e mudanças climáticas e energéticas.
Um dos nomes mais importantes da certificação francesa Démarche HQE (Haute Qualité Environnementale), Patrick alertou para o grande impacto ambiental causado pela construção e operação de edifícios. Para ela, as certificações sustentáveis são prova de que é possível mudar o panorama atual e trabalhar com sistemas cada vez mais eficientes.
Uma das tendências abordadas na palestra foram os edifícios com energia positiva – ou seja, aqueles que produzem mais energia do que consomem. Segundo Patrick, há um trabalho em desenvolvimento para que todos os edifícios sustentáveis na Europa até 2020 atuem com o conceito de energia positiva.
Além disso, o continente também visa os Low Carbon Buildings, que trabalham com materiais de baixo carbono e reduzem suas emissões de energia na atmosfera. Este é um fator essencial na mitigação de ilhas de calor.
“O reúso de materiais também é fundamental, assim como fazer boas reformas que foquem na sustentabilidade. É necessário trazer mais biodiversidade e espaços verdes para as cidades, deixando-as mais confortáveis e saudáveis para a sua população”, afirmou Patrick Nossent.
Outro ponto levantado pelo especialista e que tem grande relevância nos referenciais técnicos do AQUA-HQE foi a qualidade do ambiente interno, que deve ser planejada assim como é o ambiente externo. “Trabalhar as várias disciplinas da construção, como qualidade do ar, temperatura interna, qualidade acústica, etc., tudo isso tem um impacto gigantesco na saúde e no conforto dos usuários”, completou.
Tecnologia e inovação
Um aspecto fundamental para o desenvolvimento de cidades inteligentes é a transformação digital. Durante sua palestra, Patrick trouxe resultados de pesquisas que indicam que nos próximos anos cada pessoa terá até seis coisas conectadas à internet.
“A Internet das Coisas (IoT) muda a nossa relação com as coisas, os equipamentos, o ambiente, trabalho, as casas e as cidades. Temos que valorizar os impactos positivos e minimizar os negativos destas inovações”, ressaltou.
A transformação digital também faz relação com a matriz energética da cidade, afinal, um terço do consumo de energia é referente aos serviços digitais – como proteção de dados e segurança. Quanto maior a geração de energias renováveis, melhor para o desenvolvimento sustentável.
Mas, como construir e operar edifícios com estas novas ferramentas? “Os prédios se tornam plataformas de serviços e devem ser pensados como smartphones gigantes, oferecendo serviços e valores aos ocupantes. Temos que levar em conta a modelagem da informação, a sua gestão e interatividade”, afirmou Patrick.
Para o francês, o edifício sustentável é o primeiro passo para o desenvolvimento de cidades inteligentes. É o que vai introduzir todo o conceito de gestão, serviços, comunicação e segurança digital.
Exemplo francês
Para se ter uma smart city de sucesso é necessário envolver todos os participantes – governo, indústria e cidadãos. “Queremos atingir objetivos e metas específicas das cidades e suas respectivas populações. Por isso, as participações de cidadãos e agentes políticos são igualmente fundamentais”, falou.
O equilíbrio é o que traz uma cidade funcional e não apenas equipada de tecnologias. Segundo o palestrante, na França, os políticos apoiam a causa da sustentabilidade e das cidades inteligentes. “Eles sabem da importância, principalmente por causa do Acordo de Paris. Estamos convencidos do valor da sustentabilidade para a economia e para os cidadãos”, finalizou Patrick Nossent.
Outras palestras
No primeiro dia, o Conecticidade ainda contou com palestras sobre urbanismo, com a arquiteta e urbanista Adriana Levisky; e construção sustentável, com o José Joaquim do Amaral Ferreira, diretor de certificação da Fundação Vanzolini e Manuel Carlos Reis Martins, coordenador executivo dos projetos AQUA-HQE, PBE Edifica e EPD Brasil; entre outras apresentações.
O segundo dia contou om palestras de João Amato Neto, sobre economia circular; IoT para cidades inteligentes, com Fábio Kon, professor titular do Instituto de Matemática e Estatística da USP; e um case da cidade de Boston, nos EUA.
Todos os conteúdos apresentados estão disponíveis no site oficial do evento, clicando aqui.