Pritzker, maior premiação do segmento, definiu Isozaki como grande vencedor devido à sua contribuição inovadora e futurística à arquitetura mundial.
O Prêmio Pritzker – considerado a maior honraria do mundo da arquitetura – escolheu Arata Isozaki, renomado arquiteto, urbanista e teórico japonês, como o grande homenageado da edição 2019. O anúncio foi feito no último dia 5 e levou em consideração a abordagem visionária e futurística do profissional e sua metodologia transnacional evidenciada desde a década de 1960.
De acordo com o júri do prêmio, Isozaki possui um profundo conhecimento da história e teoria arquitetônica. “Sua busca por uma arquitetura significativa refletiu em seus edifícios, que até hoje desafiam categorizações estilísticas, estão em constante evolução e sempre frescas em sua abordagem”, diz o comunicado oficial.
Nascido em Ōita, ilha japonesa de Kyushu, em 1931, o arquiteto tinha apenas 14 anos quando Hiroshima e Nagasaki foram bombardeadas durante a Segunda Guerra Mundial em 1945. O episódio é creditado pelo próprio como um fator determinante para a sua futura carreira.
Formado em 1954 pela Universidade de Tóquio, os primeiros sucessos na arquitetura ocorreram durante a era seguinte à Segunda Guerra Mundial, quando o Japão se reconstruía dos destroços causados pelo conflito. Antes disso, Isozaki fez diversas viagens para ver o mundo através dos próprios olhos.
“Eu queria sentir a vida de pessoas em lugares diferentes e visitá-las extensivamente dentro do Japão, mas também para o mundo islâmico, aldeias nas profundas montanhas da China, Sudeste Asiático e cidades metropolitanas nos EUA. Estava tentando encontrar oportunidades para fazer isso e continuar questionando: ‘o que é arquitetura?’”, lembra o laureado, que hoje possui 87 anos.
Entre os seus primeiros trabalhos, edifícios como o Ōita Medical Hall (1959-60), Annex (1970-1972) e a Biblioteca Municipal de Ōita (1962-1966) – renomeada em 1996 como Ōita Art Plaza – ajudaram a reconstruir fisicamente a sua cidade natal.
Ao todo, são mais de 100 obras construídas em diversos países. Duas delas com maiores destaques no Japão são a Biblioteca Central de Kitakyushu (1974), em Fukuoka, e o Museu de Arte Moderna de Gunma, inaugurado também em 1974.
Arquitetura global
Sua atuação como arquiteto é vista como essencial para estabelecer um diálogo mútuo entre as sociedades do Oriente e do Ocidente. Foi a partir de seus trabalhos que a visão japonesa desempenhou uma influência maior no design europeu e americano, particularmente na década de 1980.
A precisão e destreza características do trabalho de Arata Isozaki são demonstradas por meio de seu domínio de uma gama intercontinental de técnicas de construção, interpretação de site e contexto e intencionalidade de detalhes.
“Isozaki foi um dos primeiros arquitetos japoneses a construir fora do Japão durante uma época em que as civilizações ocidentais tradicionalmente influenciavam o Oriente, fazendo com que sua arquitetura – que foi influenciada por sua cidadania global – fosse realmente internacional. Em um mundo global, esta comunicação é necessária”, comenta Tom Pritzker, presidente da Fundação Hyatt.
Entre os projetos internacionais mais conhecidos estão o Museu de Arte Contemporânea de Los Angeles (1981-1986), nos Estados Unidos; e o Palau Sant Jordi (1983-1990), em Barcelona, na Espanha, que foi projetado para os Jogos Olímpicos de 1992. Arata Isozaki ainda teve projetos construídos na Itália, Polônia, China, Qatar, entre outros países ao redor do mundo.
“Isozaki é pioneiro em entender que a necessidade da arquitetura é global e local – que essas duas forças são parte de um único desafio. Por muitos anos, ele tem tentado garantir que as áreas do mundo com longas tradições em arquitetura não se limitem a esta tradição, mas ajudem a espalhá-las e, ao mesmo tempo, aprendam com outros lugares”, afirma Stephen Breyer, presidente do júri.
Cidade no ar
Vale ressaltar outras características do trabalho desenvolvido pelo arquiteto, que sempre teve uma carreira interdisciplinar, ou seja, expandindo sua atuação para outras áreas, como: desenho urbano, design de moda, gráfico, mobiliário e cenografia, além de ser escritor e crítico de diversos concursos de arquitetura.
Em 1962, Isozaki desenvolveu um projeto urbanista para o bairro de Shinjuku, em Tóquio. Com toques futurísticos, o projeto chamado City in the Air é composto por camadas de edificações, residências e meios de transportes elevados em níveis acima do solo. Segundo o arquiteto, sua visão é uma resposta à rápida taxa de urbanização dos grandes centros mundiais. No entanto, a ideia nunca saiu do papel.
Arata Isozaki também é conhecido por elaborar o conceito japonês de ‘Ma’, que define os espaços intermediários entre objetos: “No espaço entre som e som, há silêncios, pausas. Isso é chamado de Ma. O espaço é importante; mas o espaço-entre é mais”, diz o arquiteto.
Prêmio Pritzker
A primeira edição da premiação ocorreu em 1979, quando o estadunidense Philip Johnson recebeu a honraria. O Prêmio Pritzker celebra a obra de arquitetos que tenham contribuído significativamente com o desenvolvimento de sociedades ao longo dos anos pro meio de projetos de arquitetura e urbanismo.
Arata Isozaki é o 46º no geral e o 8º japonês a obter o reconhecimento. A cerimônia de entrega da edição 2019 acontecerá em maio, na cidade de Paris (França), e será acompanhada por uma palestra pública.
Dois brasileiros já foram homenageados pelo Prêmio Pritzker: Oscar Niemeyer, em 1988, e Paulo Mendes da Rocha, em 2006.
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