Segundo Panorama dos Resíduos Sólidos, cada brasileiro gerou cerca de 378kg de lixo em 2017. Quantidade total é suficiente para encher 160 vezes o Maracanã.
A Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe) apresentou o Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil 2017, o qual revelou o total de 78,4 milhões de toneladas de resíduos sólidos urbanos (RSU) gerados no País.
O aumento foi de 1% em comparação com o ano de 2016, passando de 212.753 toneladas por dia para 214.868 t/dia. O levantamento mostra que cada cidadão produziu em média 378kg por dia, capacidade suficiente para cobrir 1,5 campo de futebol.
A edição deste ano apresentou dados inéditos que abrangem a gestão de resíduos, coleta, destinação do lixo, construção e demolição, além de serviços prestados como a coleta seletiva e iniciativas de reciclagem e recursos.
A quantidade de RSU coletada registrou aumento de 1,25%, totalizando 196.050 t/dia, mas, ainda assim, mantendo o índice de cobertura de coleta de 91% em todo o País. O relatório ainda aponta que 7 milhões de toneladas deixaram de ser coletadas, o que, consequentemente, leva a uma destinação imprópria.
“A geração de resíduos aumentou em todas as regiões do Brasil e o crescimento na geração per capita foi superior à variação do PIB per capita, demonstrando que mesmo diante de uma leve retomada da economia, o brasileiro passou a descartar mais materiais, invertendo a curva de queda observada no período anterior”, avalia Carlos Silva Filho, diretor-presidente da Abralpe.
O estudo também apresentou que a destinação adequada dos resíduos sólidos coletados pelos municípios permaneceu estagnada, com cerca de 59,1% do volume coletado. Mas, por outro lado, o descarte irregular aumentou em 1%, equivalente a 29 milhões de toneladas.
Já pelo segundo ano consecutivo houve elevação na quantidade de lixo direcionado para lixões – considerado o pior destino –, com crescimento de 3% de 2016 a 2017, além de indicar que mais de 1.600 cidades utilizam estas unidades irregulares.
“A quantidade de resíduos disposta de maneira inadequada cresce a cada ano, trazendo impactos negativos ao meio ambiente e à saúde pública. Caso não sejam adotadas medidas urgentes para reverter este quadro, corremos o risco de atingir um problema de proporções irreversíveis, seja porque os custos de recuperação serão astronômicos seja devido as alternativas de recuperação que não surtirão mais efeito, tamanho o grau de degradação”, alerta Carlos.
Confira abaixo a disposição final de RSU no Brasil por tipo de destinação (tonelada/dia).
Tabela mostra a quantidade de municípios por tipo de disposição final adotada.
Construção, demolição e saúde
Os municípios também são responsáveis por gerenciar os resíduos da construção civil e de demolições, além de realizar o descarte correto de itens de saúde – legalmente, as instituições de saúde têm a obrigação de elaborar e executar um plano de gerenciamento de resíduos, de acordo com a RDC nº 306 da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) e pela Resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) nº 358.
Muitas cidades acabam por fazer o recolhimento destes resíduos, substituindo os próprios geradores dos lixos ou apenas para colher os materiais abandonados em locais impróprios – como calçadas e terrenos baldios. Em 2017, as cidades brasileiras chegaram a recolher por dia 123.421 mil toneladas de resíduos de construção e demolição, além de apanhar 256.941 mil toneladas de resíduos de serviços de saúde.
“Se somarmos a quantidade de resíduos sob gestão municipal, vemos que as prefeituras brasileiras foram responsáveis por gerenciar, no ano de 2017, aproximadamente 117 milhões de toneladas de resíduos sólidos”, afirma Carlos Silva, diretor-presidente da Abrelpe.
Coleta seletiva
O Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil 2017 apresentou uma pesquisa inédita de percepção do cidadão a respeito de resíduos e reciclagem, realizada pelo Ibope, a qual mostrou que cerca de 75% dos cidadão brasileiros não fazem a separação de seus resíduos em casa. O principal motivo, informa a pesquisa, é a falta de instrução, pois os entrevistados revelaram pouco conhecimento ou não saber nada a respeito de coleta seletiva.
O cenário reflete a ineficiência das determinações legais, orientações e ações voltadas a reciclagem impostas pelos municípios, que seguem sem demonstrar avanços. Atualmente, de acordo com os dados do Panorama, 70% das 5.570 cidades brasileiras contam com algum tipo de iniciativa. “A consequência direta são os índices de reciclagem que se mostram estagnados há alguns anos. Apesar da grande propaganda que tem sido feita a este respeito”, diz Carlos Silva Filho.
O cenário de gestão de resíduos sólidos no Brasil permaneceu estagnado de 2016 a 2017 e com dados negativos nos seus principais índices. “Permanece a percepção já apresentada em edições anteriores de que a disposição trazida pela Política Nacional de Resíduos Sólidos, que completou oito anos em agosto, ainda carece de aplicações práticas e efetivas em todas as regiões do País”, informa Carlos.
“A ausência de recursos para custear as mudanças previstas tem perpetuado um considerável e crescente déficit nos pontos mais caros da Lei: maximizar o aproveitamento e a recuperação dos materiais descartados e erradicar as práticas de destinação inadequada ainda presentes e com impacto negativo à saúde dos brasileiros”, conclui.