Economia de água nas atividades desempenhadas no canteiro sustentável é uma das exigências para a obtenção de diversas certificações no mercado.

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Reúso de águas pluviais e de ar-condicionado ajudam a criar canteiro sustentável. Imagem retirada do Google.
De 18 e 22 de março, o Going Green Brasil celebra o Dia Mundial da Água (22/3) com uma série de matérias especiais sobre este recurso vital para a vida humana e o desenvolvimento sustentável. Temas como saneamento básico, gestão eficiente, consumo consciente, dessalinização e reúso estão em pauta neste ano. Clique aqui para acompanhar os conteúdos publicados e ajude a promover o uso sustentável da água.

Segundo estudos elaborados mundo afora, a construção civil é responsável por consumir 21% de toda a água tratada do planeta, sendo 13,6% deste percentual destinado a edificações. O consumo e a gestão eficiente da água é um dos requisitos mais importantes para o desenvolvimento de edifícios verdes, especialmente para aqueles que buscam a constatação de uma certificação sustentável.

Ao trabalhar diversas estratégias economizadoras, a redução do consumo de água potável pode chegar a grandes percentuais – muitos casos conseguem atingir 50% de economia e, em alguns outros, o percentual pode ser maior, inclusive sendo autossuficiente – em todo o ciclo de vida da edificação, ou seja, desde a sua construção até a operação.

Falamos bastante como o consumo de água potável pode ser reduzido na operação do edifício, utilizando sistemas de captação e reúso de águas pluviais, por exemplo, ou equipamentos eficientes que mitigam o desperdício do recurso. Porém, é importante ressaltar também como práticas e soluções sustentáveis diminuem o consumo de água no canteiro sustentável de obras, durante a construção da edificação.

Veja também: Como montar um projeto de captação e reúso de águas pluviais?

Muitas construtoras adotam o canteiro sustentável como um elemento indispensável em seus projetos. A Trisul, por exemplo, tem avançado na gestão de água dentro dos canteiros, implantando várias medidas de acordo com o cenário de cada obra.

“O que mais repercute em economia no canteiro é o sistema cascata, que evita o transbordamento dos tambores de água. Dispomos de um sistema de Lava Pincel, o qual é fechado e utiliza apenas 600 litros d’água para lavagem de todos os equipamentos de pintura durante a obra. Também fazemos uma logística com a água em relação ao teste de impermeabilização de piscina, no qual enviamos o recurso utilizado neste serviço para outras atividades da torre”, diz Victor Dias, coordenador de sustentabilidade da construtora Trisul.

Para Wellington Vilanova Trombela, engenheiro ambiental do Grupo Rio Verde, as alternativas para reduzir o consumo de água em canteiros são diversas e exigem adaptação dos procedimentos existentes para melhorar o desempenho. “É possível diminuir água indiretamente, por exemplo, comprando um material para uso na construção que não necessite de água. Também é possível economizar conscientizando a equipe. É um conjunto de ações planejadas”, conta.

Alguns exemplos adotados no canteiro sustentável em relação à água são:

  • Agentes de cura para concreto;
  • Compra de água proveniente de reúso;
  • Aproveitamento de águas pluviais e de ar-condicionado;
  • Sistema de reaproveitamento de água de dispositivos (lava bica; lava rodas; central de betoneiras);
  • Instalação de dispositivos economizadores nas torneiras;
  • Fechamento dos registros da obra em intervalos sem produção;
  • Monitoramento do consumo de água, se possível setorizado;
  • Campanhas de conscientização e plano de incentivos (recompensa aos funcionários);
  • Reaproveitamento da água utilizada na pia dos sanitários para a lavagem do mictório;
  • Utilização da água empoçada no terreno na lavagem da rua.

Gestão e conscientização

fechando torneira
Conscientização é essencial para sucesso das ações. Imagem retirada do Google.

O monitoramento destas ações é fundamental para não só manter a redução do uso de água, como, também, para entender os padrões de consumo. “Entendendo este ponto, podemos traçar objetivos e metas. Os consumos podem variar de acordo com o método construtivo utilizado, então o conhecimento dos processos é tão importante quanto monitorar”, afirma Wellington.

Uma forma eficaz de monitorar o consumo é implantar medidores de água em diversos pontos do canteiro sustentável para ter um resultado mais setorizado e, assim, avaliar se há desperdício ou vazamentos. Documentar os dados em uma planilha interna de indicadores também é uma prática comum, associando o consumo do recurso hídrico com a fase da obra e o número de colaboradores presentes naquela etapa.

Ana Rocha Melhado, engenheira civil e diretora da proActive Consultoria, é parceira de diversos projetos sustentáveis no mercado imobiliário, entre eles, em edifícios da Tarjab Incorporadora. Ela também comenta sobre a importância de realizar um monitoramento eficaz: “A partir do monitoramento são interpretadas as alterações significativas que ocorrem de acordo com cada etapa da obra a fim de decidir sobre a necessidade de repetir as ações de sensibilização e adotar novas medidas econômicas”.

A conscientização de trabalhadores é um passo essencial em qualquer estratégia em prol da sustentabilidade e não é diferente neste caso. Ela influencia diretamente o alcance dos resultados esperados.

“A construção é um setor que depende muito de mão de obra terceirizada e a rotatividade é grande. Ações de conscientização devem ser objetivos. Os trabalhadores podem trazer hábitos de empresas anteriores que não estabeleceram metas de desempenho sustentável, por isso, é importante investir neste âmbito para que eles colaborem com o alcance dos resultados”, comenta Wellington, do Grupo Rio Verde.

Victor Dias lembra que o maior consumo de água está relacionado aos agentes da obra. Fazer orientações de economia e reutilização do recurso hídrico periodicamente é o caminho correto. “Disponibilizamos também murais informativos que contêm diversas maneiras e boas práticas da gestão de água e outras maneiras”, conta o coordenador de sustentabilidade da Trisul.

Em muitos casos, o trabalho de conscientização ultrapassa as barreiras do canteiro sustentável e são levados pelos colaboradores para os seus próprios lares. Ou seja, além de alinhas os objetivos da empresa, a conscientização traz novas experiências e conhecimentos que podem ser difundidos pela sociedade.

Finalidades e percentual de economia

limpeza com água de reúso
Limpeza de chão, equipamentos e do entorno é uma das finalidades da água de reúso. Imagem retirada do Google.

A construção em alvenaria demanda um grande volume de água, uma vez que ela é utilizada para a mistura do concreto e outros fins. Hoje em dia, a construção seca está presente no mercado brasileiro, mas, ainda assim de uma maneira muito tímida. Com a baixa popularidade, o custo acaba sendo um pouco mais elevado – deve-se levar em conta o tipo e complexidade do projeto.

Segundo Wellington, economicamente falando, os sistemas construtivos que consomem menor volume de água são aqueles que utilizam maior quantidade de elementos pré-fabricados. “O ideal é que seja feita uma análise mais ampla considerando o consumo de toda a cadeia produtiva”, afirma.

Ana Rocha conta que nas obras acompanhadas por ela e pela sua consultoria, observa-se que grande parte têm adotado o drywall nas paredes internas, como é feito pela Tarjab Incorporadora. “Apesar de não termos prestado consultoria para nenhuma obra que utiliza o Steel Frame, sabemos que este método construtivo tem crescido no Brasil e já é muito aproveitado em outros países”, complementa a diretora da proActive.

Captar e reaproveitar água de diversas fontes é um dos métodos mais eficientes e usados em termos de green buildings, tanto no canteiro sustentável quanto na operação dos empreendimentos. As finalidades desta água de reúso acabam sendo as mesmas para ambas as situações.

“Este recurso é utilizado para fins menos nobres, ou seja, aqueles que não dependem de água potável”, diz Wellington. Entre eles, podemos citar: umidificação de vias e calçadas, descarga do vaso sanitário, limpeza de pisos e áreas externas, limpeza de mictório, rega de áreas verdes, lavador de rodas, limpeza de equipamentos como forma para concretagem, testes de impermeabilização, entre outros.

De acordo com o engenheiro ambiental do Grupo Rio Verde, o percentual de economia é baseado no orçamento previsto para a obra. “Chegamos a ter uma diferença em torno de 30% nas primeiras obras que adotaram as estratégias de redução”, revela.

Na Trisul, a redução do consumo de água potável também chega a 30%, conforme diz Victor Dias. “Varia muito de obra para obra e de disposição do recurso, contudo, ao priorizar a água de reúso, a economia se dá em relação à demanda do canteiro”, afirma.

Poço artesiano

Em relação à utilização de água de poço artesiano, as opiniões sobre o seu real aproveitamento ainda são conflitantes. Vale dizer que a medida deve ser estudada caso a caso e que nem sempre é viável do ponto de vista econômico, no entanto, em casos de obras distantes de redes de água de concessionárias – e em períodos de crise hídrica –, esta pode ser uma alternativa importante.

Wellington explica que há custos para perfuração, adequação e tratamento da água que podem inviabilizar a instalação do poço artesiano. “Tudo depende do prazo da obra, da distância entre a rede de água da concessionaria e a obra, do preço cobrado pela concessionária e da qualidade do recurso disponível no lençol freático.”

Segundo o engenheiro ambiental, a água de poço in natura não é adequada para alguns usos na construção – além de ser inadequada para consumo humano –, limitando seu aproveitamento para atividades de limpeza, por exemplo.

Por fim, é fundamental ressaltar que o poço deve ser legalizado junto ao órgão ambiental competente. Até conseguir a autorização, ele não deve ser utilizado. Outro ponto importante é que, se utilizada água de poço com posterior descarte em rede de esgoto, a concessionária pode cobrar pelo tratamento.

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