Moradias Infantis, projeto da Fundação Bradesco, é um exemplo de como a arquitetura pode ser usada a favor da transformação social.

Moradias Infantis
Moradias Infantis é feito inteiramente de materiais sustentáveis, como Madeira Laminada Colada  Foto: Leonardo Finotti

O projeto brasileiro Moradias Infantis venceu ontem (20) o Prêmio Internacional RIBA 2018, que a cada dois anos seleciona uma edificação que exemplifique a excelência e a ambição do projeto arquitetônico, além de causar um impacto social positivo para a comunidade. O RIBA – em português significa Instituto Real de Arquitetos Britânicos – é um dos prêmios de arquitetura mais rigorosos do mundo.

O Moradias Infantis é um complexo escolar que oferece acomodação para 540 crianças entre 13 e 18 anos, que vão de áreas remotas e carentes até a zona rural da cidade de Formoso do Araguaia (TO) – mais de 300 km de Palmas, capital do Estado. A estrutura está baseada na grande Fazenda Canuanã – que desde 1973 funciona como um escola internato –, um dos 40 projetos financiadas pela Fundação Bradesco que oferece educação para crianças em comunidades rurais em todo o Brasil.

Os novos dormitórios para os estudantes foram construídos entre 2016 e 2017, implantados nas áreas norte e sul da propriedade. Projetado pelo arquiteto Marcelo Rosenbaum em parceria com o grupo Aleph Zero – dos arquitetos Gustavo Utrabo e Petro Duschenes –, o complexo superou outros três finalistas de Budapeste (Hungria), Milão (Itália) e Tóquio (Japão) para conquistar a premiação deste ano.

“O Moradias Infantis oferece um ambiente excepcional projetado para melhorar a vida e o bem-estar das crianças da escola. Isso ilustra o valor imensurável de um bom design educacional”, disse Ben Derbyshire, presidente do RIBA.

Para os arquitetos responsáveis, este é um exemplo de como a arquitetura pode ser usada a favor da transformação social. Ele é resultado de um longo trabalho de imersão e identificação das reais necessidades e desejos dos estudantes, por isso, acabou-se criando um forte senso de pertencimento. Isso também ampliou o entendimento do espaço para além de um ambiente de aprendizado, transformando-o em um verdadeiro lar.

“Foi uma alegria ver as próprias crianças construindo o prédio e adaptando o espaço para atender às suas necessidades. Queríamos ser prescritivos sem ser arrogante, ser solidário sem ser paternalista e estimular o crescimento e o desenvolvimento sem cobri-lo”, frisaram os arquitetos do grupo Aleph Zero.

Projeto sustentável

Situado em uma área de 25 mil m², o projeto foi dividido em duas vilas idênticas – masculina e feminina, respeitando a estrutura que já havia anteriormente na Fazenda Canuanã. As residências estão centradas em torno de três pátios amplos, abertos e bem sombreados ao nível do solo, onde a acomodação dos dormitórios está localizada. Ao todo, são 45 unidades em cada vila, sendo que cada dormitório comporta seis alunos. Há também espaços comuns flexíveis nos quais as crianças podem relaxar e brincar.

O projeto não só visa melhorar a qualidade de vida dos alunos, mas também fortalecer a relação entre eles e a escola. Para Rosenbaum, “o espaço facilita a interação entre o público e o privado, e a socialização entre o coletivo, a natureza e o indivíduo, reconectando crianças e jovens às suas origens e ao ecossistema circundante”.

Combinando uma estética contemporânea com técnicas tradicionais, o Moradias Infantis foi descrito pelos jurados como um exemplo que reinventa a arquitetura tradicional do Brasil. A construção contou com recursos e técnicas locais, abordagem que cria um maior envolvimento entre comunidade e edificação.

O projeto foi feito com materiais sustentáveis como Madeira Laminada Colada de eucalipto (MLC), que permite a fabricação de peças de dimensões grandes e provindas de florestas plantadas em áreas de recuperação. O uso desta peça aumenta as possibilidades do projeto arquitetônico, além de ser rentável e ambientalmente sustentável. Outras matérias-primas como blocos de terra feitos à mão – escolhidos por suas propriedades térmicas, técnicas e estéticas – e traçados de palha também foram aproveitados.

O ecossistema da região – formado por um clima tropical, no qual as temperaturas podem chegar a 40°C no verão – foi um dos principais desafios do projeto, uma vez que a sensação térmica é muito quente. Para proporcionar um ambiente aconchegante e fresco, as áreas de sombras são fornecidas pelo grande telhado de copa, cuja estrutura é composta de vigas e colunas de madeira laminada cruzada.

O design de dossel suspenso criou um espaço intermediário entre o interior e o exterior, dando o efeito de uma grande varanda com vista para a paisagem circundante e criando um ambiente confortável sem necessidade de ar-condicionado.

Os beirais de 4 metros do telhado garantem maior proteção contra a radiação solar nos períodos mais quentes do dia. O pé direito de 8 metros de altura também favorece o conforto térmico, ao facilitar a circulação da ventilação natural.

Vale ressaltar que a integração com o projeto paisagístico busca reconectar as crianças coma biodiversidade do local.

Confira os demais finalistas do Prêmio Internacional RIBA 2018 neste link.

Fonte: RIBA Architecture.

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