Solução deve tornar mais eficiente o manejo de árvores e a prevenção de acidentes de trânsito.
Não é novidade que grandes cidades e vegetação vivem em desequilíbrio constante. O avanço das ruas, calçadas e edifícios tira cada vez mais o espaço das árvores nos aglomerados urbanos, e essas espécies acabam, geralmente, destinadas a ocupar apenas parques e praças. Mas, mesmo nesses lugares, ou nos projetos urbanísticos que visam levar mais verde à paisagem das ruas, não é raro que ocorram problemas como a queda de árvores e o soerguimento de calçadas por raízes que cresceram mais que o esperado.
É para minimizar essas situações e permitir um melhor controle da vegetação arbórea nas cidades que a Propark Paisagismo e Ambiente, de Piracicaba (SP), está desenvolvendo, em parceria com a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), um software para a coleta de informações das árvores que ajude a prevenir acidentes e ajudar o poder público no planejamento paisagístico das cidades.
A ideia inicial é permitir o mapeamento das espécies e suas condições, para poder planejar ações de manejo, segundo Marcelo Leão, diretor da Propark e responsável pelo desenvolvimento do projeto. “Assim, será possível planejar as ações a serem executadas, como podas, adubações, cabeamento, tutoramento, dendrocirurgia, transplantes e até a supressão, caso seja necessário”, explica ele, em publicação da Fapesp sobre a novidade.
Com o tempo, a Propark espera que o Arbolink, como foi batizada a solução, ajude não só a realizar essas operações de emergência, mas auxiliar no próprio planejamento urbano e no melhor posicionamento das espécies arbóreas. “As árvores são essenciais para assegurar a qualidade ambiental das cidades, especialmente as de clima quente, já que trazem sombreamento, reduzem as ilhas de calor e valorizam o cenário local”, disse Leão, citando calçadas estreitas, interferência de fiação aérea e podas inadequadas como problemas decorrentes da falta de uma programação adequada para o posicionamento de árvores.
Metodologia
Para chegar ao método ideal de mapeamento, a Propark e a Fapesp encomendaram, previamente ao desenvolvimento do Arbolink, uma pesquisa em mais de 200 cidades para ver como normalmente é realizada a verificação do estado das árvores e o destino delas. “A grande maioria ainda usa a prancheta e o papel e baseia as ações de manejo em análise visual dos exemplares”, diz Marcelo Leão.
A companhia decidiu então adotar o método Visual Tree Assessment (VTA, Avaliação Visual de Árvores), utilizado internacionalmente para definir intervenções em vegetação arbórea, e adaptá-lo às condições brasileiras.
A metodologia do VTA consiste em quatro etapas básicas: inspeção para detectar sintomas (possíveis defeitos no crescimento, a situação da coroa e das folhas, fungos que estejam crescendo, etc); confirmação de defeitos e medições (coletando amostras e medindo a resistência do tronco a perfurações, para checar sua saúde, por exemplo); avaliação do defeito (realização de testes nas amostras obtidas); e determinação das ações seguintes (poda, aplicação de estacas ou a eventual substituição da árvore).
As informações coletadas serão então centralizadas em um banco de dados e acessadas pelos usuários em computadores ou dispositivos móveis. “Com o auxílio do software, é possível realizar o mapeamento arbóreo de uma determinada área e avaliar o estado das árvores, gerando um conjunto de informações disponibilizadas em tablets e smartphones, ligadas a um sistema de controle que possibilite uma gestão eficiente das informações obtidas em campo”, resume o diretor da Propark. Espera-se que prefeituras diversas e companhias de energia elétrica sejam as principais clientes.
Futuro
No momento, o estudo se encontra em fase de testes da funcionalidade do software, identificando funções necessárias e as acrescentando ao Arbolink. Um avanço desejado, por exemplo, é permitir que o programa identifique, só com as informações obtidas, as espécies das árvores analisadas.
Com um longo histórico de pesquisa para inovação no manejo de vegetação, a companhia de Piracicaba recebe ajuda do Programa Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (Pipe), da Fapesp. As pesquisas começaram em 2016 e a previsão é que o Arbolink seja disponibilizado no ano que vem. Para que isso seja possível, além da finalização do software em si, ainda precisa ser definido o modelo de comercialização. “Não sabemos ainda a dimensão que essa inovação poderá assumir no âmbito do conjunto de negócios da empresa. Também não está claramente definido como o uso da plataforma será precificado – provavelmente por licença de uso e taxa de manutenção. O plano de negócios também está em desenvolvimento, mas a iniciativa parece bem promissora”, comenta Marcelo Leão.
Fonte: Fapesp