Foram nada menos que 98,5% das exigências atendidas nessa que é uma das certificações mais exigentes para edifícios sustentáveis no mundo.
Preservar o legado histórico de uma área e, ao mesmo tempo, trazer a ela um ícone da arquitetura e construção moderna, priorizando a sustentabilidade. A tarefa parece das mais difíceis, mas foi o que a gigante de mídia Bloomberg logrou com sua nova sede europeia em Londres. O novo edifício da empresa especializada em informações do mercado financeiro se ergue onde, no século 3, ficava o templo dedicado ao deus Mitra, legado da ocupação romana na ilha que hoje é a Inglaterra. E, a esse espaço histórico, onde também ficava o principal centro comercial dos romanos no local, foi levado um projeto que aproveitou essa herança e, com atributos sustentáveis, mereceu ainda a mais alta nota já obtida por qualquer prédio na certificação britânica BREEAM (sigla para Building Research Establishment Environmental Assessment Method).
Distribuídos em uma área de quase 13 mil metros quadrados, dois prédios interligam-se por uma passarela superior. Dentro deles, mais de 100 mil metros quadrados de salas de trabalho foram desenhados de modo a privilegiar o contato interpessoal e o conforto dos mais de 4 mil funcionários que ocupam o prédio. O projeto elaborado pelo escritório Foster + Partners dá um ar mais leve ao centro da City of London, centro financeiro da capital inglesa onde o edifício se localiza.
Já na alameda cuidadosamente desenhada entre os edifícios, um centro gastronômico relembra a importância comercial que o local tinha há quase 2 mil anos. Hoje, um novo espaço de convivência e alimentação para os funcionários da Bloomberg e a população em geral, batizado Bloomberg Arcade, funciona no espaço. “Nosso novo prédio mira o empoderamento de nossos funcionários, para que possamos servir melhor nossos clientes enquanto levamos uma nova vida a esse bairro histórico”, resume o fundador da Bloomberg, Michael R. Bloomberg.
Economia de energia e fachada que “respira”
Com elegantes superfícies de bronze adornando sua fachada, o edifício da Bloomberg não só evoca a origem romana que permeia o projeto, mas também garante a economia de energia. As lâminas oblíquas se deslocam automaticamente conforme a agradabilidade do clima, garantindo a entrada de ventilação natural e diminuindo a dependência dos sistemas de ventilação e climatização para o conforto térmico.
O tratamento inteligente do ar prossegue com a utilização, nos ambientes internos, de sensores que medem constantemente a quantidade de CO2 presente, para calcular a quantidade de pessoas presentes. Conforme mais pessoas são “detectadas”, o fluxo de ar se intensifica; e, quando a ocupação é mais baixa, ele é reduzido. Assim, o edifício pode funcionar em modos “trabalho”, durante o dia, e “descanso”, durante a noite, e a emissão de CO2 a partir do uso de energia pode ser reduzida em até 300 toneladas todos os anos.
No mesmo período, outras 500 toneladas do gás serão economizadas com o fornecimento integrado de calor e energia (Combined Heat and Power, ou CHP), em que o calor excedente da geração de energia é reprocessado para ser usado no resfriamento ou aquecimento, conforme necessário.
“Acreditamos que práticas ecologicamente corretas são tão boas para os negócios como para o próprio planeta. Desde o início, queríamos ampliar os limites do design de escritórios sustentáveis, criando também um ambiente que excite inspire nossos colaboradores. Essas duas missões caminharam lado a lado, e acho que criamos um novo conceito do que um ambiente corporativo pode ser”, destaca Bloomberg.
“O mais sustentável do mundo”
O ambicioso projeto já rendeu aos participantes resultados imediatos: ao iniciar seu funcionamento, em outubro do ano passado, o edifício da Bloomberg já havia obtido a maior nota da história na certificação BREEAM. Foram nada menos que 98,5% das exigências atendidas nessa que é uma das certificações mais exigentes para edifícios sustentáveis no mundo.
O próprio BRE (Building Research Establishment), que concede a certificação, reconheceu o caráter exemplar do empreendimento. “A Bloomberg queria um exemplo de design sustentável que fortalecesse e ainda fizesse crescer a atmosfera da City of London. Altos padrões sustentáveis estão no centro de cada aspecto do prédio. O desejo deles era o de criar um edifício que olhe para o futuro, reflita o compromisso da empresa com práticas sustentáveis e encoraje o trabalho ativo de seus funcionários”, define a instituição, em sua divulgação oficial sobre o prédio.
De fato, a Bloomberg tem na sustentabilidade uma marca de sua atuação: são 34 projetos com certificação BREEAM ou LEED em posse da empresa. Cerca de 70% dos seus colaboradores trabalham em prédios reconhecidamente sustentáveis.
Veja outros destaques sustentáveis do prédio da Bloombeg em Londres:
Iluminação com eficiência energética: painéis no teto dos nove andares integram em um mesmo sistema condicionamento de ar, iluminação e funções acústicas. São 500 mil lâmpadas LED, que, em seu uso combinado, geram 40% de economia na energia utilizada, em relação a lâmpadas fluorescentes normalmente utilizadas. A construção desses painéis, inclusive, foi realizada à parte, longe do edifício, para reduzir a geração de resíduos e entulho.
Uso da água: toda a água recebida em chuvas e utilizada nos sistemas de resfriamento, além da água cinza gerada em chuveiros e torneiras, é capturada para o reuso nos vasos sanitários – o que deixa o edifício com zero uso de água dos encanamentos principais para a descarga nos banheiros. Há ainda uso parcial de um sistema de descarga a vácuo, o primeiro em grande escala em todo o Reino Unido. Com tudo isso, o BREEAM estima que 25 milhões de litros de água serão economizados todos os anos – o suficiente para encher dez piscinas olímpicas.
Sem resíduos: com o novo edifício, a Bloomberg segue com sua política de zero resíduo ostentada em Londres desde 2010. Todo o lixo é reciclado, compostado ou convertido em energia. A ideia é que nesse prédio o processo seja otimizado, aumentando a quantidade de lixo reciclado e diminuindo a compostagem.
Hub cultural: ao dedicar parte do edifício ao uso da população londrina, com o Bloomberg Arcade na alameda térrea, o projeto não só cria um espaço de referência gastronômica, mas também de uso cultural: esculturas da artista Cristina Iglesias adornam o ambiente externo. Além disso, o Templo de Mitra foi restaurado no lugar que ocupava originalmente – e onde foi descoberto em escavações na década de 1950 – e agora o Mithraeum Bloomberg Space oferece um verdadeiro museu, repleto de artefatos da época. Tudo isso com enrada gratuita para o público
Sobre o BREEAM
Lançado em 1990, o selo britânico BREEAM é uma das mais certificações mais exigentes no universo da construção sustentável. Ele trabalha com dez categorias: energia, saúde e bem-estar, inovação, uso da terra, materiais, gestão, poluição, transporte, resíduos e água. Cada uma delas tem um peso diferente e é subdividida em critérios mais específicos, que por sua vez têm seu nível próprio de pontuação mínima para o edifício ser considerado sustentável. São 100 pontos distribuídos entre as categorias, sendo necessários pelo menos 30 para ter o título de empreendimento certificado. Pontuações maiores podem render aos edifícios os selos good (bom), very good (muito bom), excelente (excelente) e outstanding (fora de série). Este último foi o obtido pelo novo prédio da Bloomberg, com 98,5 pontos.
São 563.808 certificados BREEAM já emitidos em 77 países. No Brasil, o selo é pouco difundido, tendo chegado em 2011 com a marca BREEAM Bespoke International, que certifica os prédios fora do Reino Unido. O único edifício certificado por aqui é a sede do Movimento Terras, em Petrópolis-RJ.