Confira a entrevista com Antonio Macêdo Filho, sócio fundador da EcoBuilding Consultoria em Sustentabilidade, sobre o momento atual e as tendências no pós-pandemia.
Fizemos uma série de entrevistas com alguns dos especialistas do mercado da sustentabilidade, que deram suas opiniões e impressões sobre o momento atual, as perspectivas e tendências de transformação que o futuro nos reserva.
Apresentamos, na íntegra, a entrevista com Antonio Macêdo Filho*, da EcoBuilding:
Portal Going Green Brasil. Qual o principal impacto que a quarentena/pandemia trouxe para a sua empresa? Em termos de funcionamento e, principalmente, como impactou os negócios…
Antonio Macêdo Filho. No nosso caso, do ponto de vista operacional, como já vínhamos atuando com a maior parte da equipe remota, a mudança não foi grande. Quanto aos negócios, muitas reuniões foram suspensas, viagens canceladas e, em alguns casos, projetos pararam.
GGB. Quais foram as alternativas que vocês buscaram (se existiram, ou se foram necessárias) para manter os negócios em andamento?
AM. Estamos fazendo reuniões por videoconferência e estamos seguros de que os projetos que pararam voltarão, após o período de quarentena. Em paralelo, fizemos promoções para os cursos online EcoBuilding Fórum, para o período de quarentena e estamos desenvolvendo novos programas.
GGB. Como você avalia a percepção dos clientes e do mercado em geral, frente aos desafios desse momento… Houve (se houve) apenas retração de investimentos? Houve (se houve) mudança de prioridades? Houve (se houve) mudança de posicionamento em relação aos negócios em andamento?
AM. Sem dúvida, é um momento de incerteza. Esta é uma crise como nenhuma outra, sem precedentes. Contudo, o mercado imobiliário vinha, desde o final de 2019, em crescimento sustentado em indicadores sólidos. Estes fundamentos devem persistir e o mercado deve retomar a tendência de crescimento.
Uma mudança, importante a meu ver, deve ocorrer na forma como as pessoas se relacionam no trabalho e com o trabalho em si, bem como na forma como as empresas vêm as relações profissionais com as suas equipes.
Vamos ver o fortalecimento das questões relacionadas ao chamado “Movimento Wellness”, já vinha crescendo em todo o mundo nos últimos anos, como comentei num artigo que publiquei em outubro 2019.
Já estamos vendo um crescente interesse pelas questões relacionadas à saúde, o conforto e bem-estar das pessoas. Isto deve impactar inclusive nos espaços de trabalho, tanto em projetos quanto nas suas operações. Certificações de bem estar, como o pioneiro sistema WELL Building Standard, estão crescendo em todo mundo, uma vez que são ferramentas poderosas para fazer com que os ambientes construídos possam garantir o conforto, a saúde e bem estar das pessoas, a partir de indicadores claros do nível de qualidade ambiental (em aspectos como a qualidade do ar, da luz, da acústica, da água, da alimentação, atividades físicas e convívio social, dentre outros).
Isto deve levar ao fortalecimento das questões relacionadas ao chamado Movimento Wellness, já vinha crescendo em todo o mundo nos últimos anos.
GGB. O que você acredita que esse momento irá impactar, negativamente, (e também positivamente), no desenvolvimento de novos negócios associados à sustentabilidade e normas?
AM. Este período de afastamento social e quarentenas por todo o mundo, provocados pela pandemia, tem proporcionado muitas oportunidades de reflexões e aprendizados, em muitas áreas. A inédita e abrupta redução das atividades humanas, em todo o planeta, possibilitou que fenômenos antes impensáveis pudessem ocorrer.
Do ponto de vista ambiental, estamos vendo a natureza recuperar espaço e começando a se curar dos efeitos nocivos da ação humana. As emissões de CO2 (assim como de outros gases noviços) despencaram. A temperatura média do planeta caiu. O frio já está chegando mais cedo no hemisfério sul este ano.
A poluição do ar nas grandes metrópoles (inclusive São Paulo) sumiu, assim como também sumiu a poluição sonora. Aves e outras espécies estão voltando a aparecer e desfrutar dos rios, mares e lagoas (inclusive a Rodrigo de Freitas, no Rio de Janeiro).
As pessoas estão preferindo andar ou pedalar, ao invés de usar carros. Muitos estão cultivando alimentos em casa para consumo próprio.
Muitas empresas estão percebendo que é possível funcionar e serem produtivas com espaços de trabalho mais econômicos e eficientes, com equipes trabalhando de diferentes formas, em diferentes lugares, o que impacta em reduções de consumos de energia, de água, matérias e insumos.
Por estas razões, para citar apenas algumas, acredito que os negócios da sustentabilidade sairão fortalecidos desta pandemia. Afinal, a curva da oferta de recursos do planeta versos as nossas demandas é uma curva que precisava (e ainda precisa) ser bastante alongada, para podermos garantir o desenvolvimento sustentável.
GGB. Acredita que a normalização do mercado se dará de maneira rápida ou tímida, e que cenário projeta para os próximos 24 meses?
AM. O mercado da construção já vinha em retomada do crescimento, após 3 anos complicados. Em alguns setores do mercado imobiliário, não houve interrupção de atividades, mesmo nesta crise. Linhas de financiamento com condições de exceção foram abertas para investidores e compradores.
Com a reabertura gradual das atividades, acredito que a retomada dos negócios no setor da construção deve ser mais rápida do que em outros setores e deve inclusive colaborar para a retomada do crescimento do país, já no próximo ano, com índices superiores à média nacional.
Por estas e muitas outras razões (inclusive de ordem social e comportamental, que não cabem comentar aqui), acredito que sairemos mais fortes desta crise inédita. Resiliência é a palavra chave e a veremos associada a cada mais áreas das atividades humanas.
Resiliência é a palavra chave e a veremos associada a cada mais áreas das atividades humanas.
*Antonio Macêdo Filho é arquiteto e urbanista pela UFBA, Master em Arquitetura Bioclimática e Edifícios Inteligentes pela Universidad Politecnica de Madrid, Especialista na área de Eficiência Energética das Edificações junto ao IEE – Instituto de Eletrotécnica e Energia da USP e profissional credenciado LEED AP, WELL AP e DGNB Consultant.
Com mais de 20 anos de atuação na área, Antonio Macêdo é um dos precursores da sustentabilidade das construções no Brasil. Experiente professor e consultor, dentre outras atividades, foi um dos pioneiros profissionais credenciados LEED e criador dos primeiros cursos preparatórios para formação de novos profissionais LEED GA e LEED AP junto ao GBC Brasil, bem como do primeiro curso de graduação em Arquitetura com Ênfase em Sustentabilidade pela UNICID e é Coordenador do MBA em Construções Sustentáveis INBEC/UNICID/UNIP, com mais de 1.000 alunos em 12 capitais brasileiras.
Como consultor, atuou em dezenas de projetos de incorporação de critérios de sustentabilidade e certificação ambiental de empreendimentos de diferentes usos e níveis de complexidade, tendo sido Senior Manager para América do Sul da área de Sustainability Consultancy Services na consultoria imobiliária Cushman & Wakefield.
Pela EcoBuilding, da qual é fundador e diretor, atua em serviços de consultoria para construção sustentável.